CAPÍTULO
6
Aulas de Magia – Até que não parece ser tão ruim
No final da tarde Erick me perguntou se eu queria dar
uma volta para descansar um pouco. Na verdade, eu não estava nem um pouco
cansada (desconfio que fosse por causa do professor), mas, a ideia de sair com
ele me deixou feliz.
Saímos a pé, andando devagar até chegarmos à trilha
que dava para a mata que circunda a cidade, então, ele parou bem na minha
frente e disse:
_ Quer passar por uma experiência mágica?
_ E o que é que eu tenho feito desde a madrugada a não
ser passar por experiências mágicas? _ eu gracejei.
_ Mas essa é realmente especial, quer? – ele fez uns
movimentos com as mãos traçando desenhos complexos no ar.
_ O que é?
_ Surpresa! Apenas diga se quer ou não!
_ Erick!
_ É pegar ou largar! Não confia em mim? _ ele falou de
um jeito encantador.
Ah! Por que ele tinha que falar daquele jeito? Se ele
não tivesse se recusado tão enfaticamente a manipular a memória de Bernardo e
não tivesse me falado daquela maneira sobre os sentimentos dele, eu pensaria
que ele estava me paquerando!
_ Tá bom, mas, vê lá o que você vai me aprontar.
_ Feche os olhos!
_ Por quê?
_ Apenas feche.
Eu fechei os olhos obedientemente.
_ Agora, segure a minha mão bem forte. No três. Um...
Dois e... Três!
Eu senti por um breve momento o chão sumir debaixo dos
meus pés e, no instante em que eu achei que iria cair, eu já podia sentir
novamente meus pés no chão. A experiência foi estranha, me deixou um pouco
enjoada, mas, foi emocionante.
_ Pode abrir os olhos agora.
_ Oh! _ foi tudo que eu consegui dizer. Estávamos no
alto da Serra da Cruz do Monte no Mirante do Cristo Redentor! Lá embaixo eu
podia ver a trilha por onde havíamos passado e admirar toda a cidade! Erick
havia me transportado para o alto da montanha num piscar de olhos!
_ Uma visão extraordinária, não acha?
_ Realmente. _ eu estava encantada não somente com a
visão, pois já havia subido aquela montanha muitas vezes, mas, com o fato em
si.
Erick parecia uma criança, estava mais feliz que eu,
e, quando sorriu, eu pude ver duas deliciosas covinhas em suas faces.
_ Quer outra experiência?
_ Pra onde?
_ Segredo._ ele disse maliciosamente.
Eu estava ansiosa para conhecer mais desse mundo
mágico, então, concordei sem pestanejar.
_ Mas antes, espere. _ ele olhou para mim e no
instante seguinte eu estava vestida com um casaco de lã, luvas, gorro e tapa
orelhas para a neve. Ele também se vestia do mesmo jeito. Pegando a minha mão
ele somente gritou:
_ Voilá! _ o chão desapareceu novamente por segundos e
reapareceu sob meus pés, um pouco mais fofo dessa vez, como se eu estivesse
pisando numa grossa camada de neve. Eu abri os olhos e o que vi me deixou
impressionada: As montanhas de neve e os chalés me diziam que nós estávamos em
alguma estação de esqui! Estávamos no alto de um monte, onde se lia uma placa
“Snowmass” e eu podia ver inúmeras pessoas esquiando montanha abaixo. Olhei ao
redor e admirei as árvores altíssimas... Caraca! O que estava acontecendo?
_ Bem-vinda a Aspen! _ ele disse sorrindo. Aspen? Uau!
Nós havíamos feito uma viagem internacional em poucos segundos!
_ Como isso é possível?
_ Somente prática, daqui a pouco você estará fazendo a
mesma coisa.
_ Brrrr! Que frio!
_ Quer um cobertor? _ ele riu, mostrando de novo as
adoráveis covinhas em seu rosto perfeito.
No mesmo instante eu me vi enrolada numa manta
quentinha, enquanto Erick me oferecia chocolate quente. Isso até que podia ser
divertido! Pensando bem, o fato de eu ser uma bruxa não era tão mau assim.
_ É... Ser bruxa tem suas vantagens!
_ De novo? Aonde eu errei agora? Não tive nenhuma
emoção negativa!
_ Mas deixou transparecer a emoção! _ ele riu. _ Ei!
Não fique preocupada, é o seu PRIMEIRO dia de bruxa! Você está muito bem!
Devagar as coisas vão se encaixar. Agora, vamos embora que amanhã nós dois
temos aula ou você se esqueceu?
A tarde havia sido tão deliciosa que eu realmente
havia me esquecido do dia seguinte quando eu teria que enfrentar Bernardo e
Sissi e levar adiante a triste tarefa de me afastar deles.
_ Você não precisa se afastar de seus amigos. Não da
maneira como está pensando.
_ É, mas, também não posso ficar com eles como ficava
antes, você sabe disso.
_ Deve haver outra saída.
_ Que saída? Ainda que não houvesse o perigo de
Hypollitus me encontrar, você acha que Bernardo vai querer continuar namorando
uma bruxa?
_ Ele gosta de você e isso deveria ser o bastante!
Para mim seria... _ ele emendou em seguida, me olhando no fundo dos olhos.
_ Mas eu não sei se ele gosta o suficiente. _ eu meio
que fingi não perceber o olhar dele _ Eu não sei se ele não iria sentir medo de
mim. Eu não sei nada! _ e grossas lágrimas começaram a descer pelo meu rosto.
Erick me abraçou.
_ Não fique assim, vamos, anime-se! Olhe, temos que ir
andando, ou melhor, voando. _ ele gracejou _ Está pronta?
_ Sim. _ então ele pegou na minha mão e eu fechei os
olhos.
_ Pense fortemente no lugar aonde quer chegar.
_ Mas... Eu? Eu ainda não sei fazer isso!
_ Se não praticar, não vai aprender. Vamos lá, você
consegue.
Então eu fechei os olhos e pensei com todas as minhas
forças no meu quarto, no segundo andar da minha casa e o chão desapareceu sob
os meus pés. Ainda de olhos fechados eu percebi que estava sentada em alguma
coisa dura e inclinada e ao abri-los, me vi sentada ao lado de Erick em cima do
telhado da Igreja de São Francisco de Assis que fica na parte alta da cidade.
_ O que foi que deu errado?
_ Apenas a falta de praticar um pouco. _ ele parecia
divertido com a situação _ Vou tirar a gente daqui logo antes que algum vizinho
nos veja. _ e, no mesmo instante, estávamos na sala de estar da minha casa, ao
lado de papai e mamãe.
_ Achei que não ficava bem invadir seu quarto pela
segunda vez num mesmo dia _ ele piscou novamente de um jeito encantador.
_ Oi Albano, oi Beatriz.
_ Olá garotos! _ papai e mamãe responderam.
_ Vocês se divertiram?
_ Bastante, mãe.
_ Ela fez grandes progressos, Beatriz. Foi capaz de
nos trazer de Aspen até o telhado da Igreja de São Francisco.
Minha mãe riu.
_ Logo estará indo de um canto ao outro do mundo.
Obrigada, Erick, por tudo que você está fazendo por nós.
Erick fez uma mesura engraçada.
_ Disponham! Bom, acho melhor eu ir andando. Tchau,
Albano e Beatriz! Vejo você amanhã Carol! _ dizendo isso, Erick desapareceu
como fumaça, mas, isso já não me espantava mais.
Eu também me despedi de mamãe e papai e subi para o
meu quarto. Achei melhor subir pelas escadas mesmo... Já havia me locomovido
vezes suficientes pela magia num dia só. Meu pai e minha mãe já não se
preocupavam em fingir e ambos apareciam e desapareciam na minha frente sem a
menor cerimônia. Apenas na rua elas andavam como pessoas comuns.
Enquanto eu subia as escadas devagar eu ia pensando em
Erick e em Bernardo e constatei, surpresa, que eu estava fazendo comparações
entre eles. Ambos eram igualmente belos, cada um ao seu modo, um com os olhos
que pareciam um dia de tempesdade e o outro com a beleza da noite no olhar.
Cada um se preocupava comigo à sua maneira procurando fazer tudo para me
agradar...
Bernardo era sensível, mas, Erick era gentil e
paciente comigo, além de encantador e estava me conquistando... O que eu estava
falando? Loucura total! Meu Deus! Eu me dei conta de que ao lado de Erick meu
coração estava batendo em descompasso absoluto e quando eu estava com ele
minhas pernas estavam virando gelatina!
“Ah! Deixa disso!” pensei. Eu já não estava entendendo
mais nada! Até a noite anterior eu nem o conhecia! “Mentira, você já sonhou com
ele” minha consciência me dizia. E, pra piorar, eu sentia como se já o
conhecesse há zilhões de anos!
Tomei um banho demorado e evitei continuar pensando em
Erick, apesar de estar sentindo uma enorme falta dele. Eu sempre quis ter
irmãos e Erick parecia ser o irmão ideal.
Eu ainda precisava decidir o que fazer com Bernardo,
eu não queria magoá-lo e, se antes já estava sendo difícil estar com ele, agora
que Erick apareceu seria muito pior! Vesti meu pijama e afundei a cabeça no
travesseiro. Para minha surpresa, o sono veio logo e eu nem percebi o quão
rápido havia dormido até o despertador soar na manhã de segunda-feira.
Eu me arrumei lentamente tentando afastar o momento em
que eu enfrentaria Bernardo e Sissi na escola. Fugi da mesmice do jeans e
camiseta: Coloquei um vestido curto mesclado em vários tons de verde e botas de
cano alto _ apesar de tudo, eu queria que Bernardo continuasse me achando
bonita _ passei o meu perfume preferido para dar sorte e desci para a cozinha.
Tomei o café da manhã desanimadamente, apenas para não ouvir as insistências de
minha mãe e peguei a mochila de escola.
Quase tive um ataque do coração quando abri a porta e
me deparei com Bernardo a minha espera na porta de casa! Oh! Não!
Como se não bastasse eu ouvi um barulho, como se fosse
uma rajada de vento e uma voz sussurrou no meu ouvido: “Eu avisei que o
esquecimento dele iria durar pouco tempo!”.
Erick! Mas... Como? E ele se foi na mesma velocidade
em que chegou!
Bernardo me olhava com tanta suavidade que eu me
esqueci da que havia prometido a mim mesma me afastar dele. Ele estendeu as
mãos para mim.
_ Eu estava com saudades!
_ Hã... A gente vai se atrasar. _ eu saí de seu abraço
e fui caminhando em direção à escola.
Ele veio logo atrás de mim e parou na minha frente, me
olhando com insistência.
_ Tá tudo bem?
_ Tá sim. “Né” nada não. Eu tive uma noite cheia de
pesadelos. _ ele não podia imaginar que meu pesadelo maior era a própria
realidade.
Fomos em silêncio até a escola. Ao chegarmos, eu vi
Charlotte, Erick e seu pai, Robert. Eles estavam indo até a secretaria da
escola, certamente para tratar da matrícula de Erick. Como se estivesse
respondendo a um chamado silencioso, Erick olhou para trás, para o lugar onde
eu estava e novamente seu olhar me desconcertou. Ele continuava surpreendentemente lindo.
Bernardo chegou por trás de mim e me empurrou
carinhosamente:
_ Vamos ou a gente vai perder a primeira aula.
Eu andei automaticamente até a sala onde uma histérica
Sissi me agarrou pelo braço:
_ Onde você se meteu desde ontem, sua lesa? Nem me deu
bola! Como é que tá com o Bernardo?
_ Mal. _ respondi mecanicamente.
_ Como assim, o que quer dizer com “mal”? Vocês
acabaram de chegar juntos! Na sua festa também parecia que tava tudo bem.
“Estava tudo
bem na festa” pensei. “O problema foi DEPOIS
da festa”.
Para minha sorte, o professor de Biologia, um homem
alto e ligeiramente careca, chegou ruidosamente na sala vestindo seu avental
branco até os joelhos e trazendo Erick à tiracolo para apresentá-lo à turma
como o mais novo membro da nossa classe. O professor ressaltou com todas as
letras (e isso eu acho que foi uma manobra do próprio Erick) o parentesco entre
mim e Erick, falando várias vezes que nós dois éramos primos e, como ele havia
morado quase toda a sua vida no exterior, eu deveria passar muito tempo com ele
para que sua adaptação fosse mais rápida.
_ Esse cara tava na sua festa! Eu me lembro dele lá _
Sissi exclamou, cheia de admiração. _ Ai! Ele é tão bonito!
“Não! Sissi, não cometa essa loucura!” eu pensei
quando vi a excitação da minha amiga. Só faltava agora Sissi se interessar por
Erick, acabando de vez com a paz de todos nós.
Quando Erick se sentou, eu olhei furtivamente para ele
e ele piscou para mim com cumplicidade. Ele estava perfeito naquele dia! Eu não
entendia mais nada! Ele me fazia sentir uma coisa esquisita, que eu não estava
preparada para sentir... Eu acho. Eu me peguei novamente fazendo comparações
entre ele e Bernardo. Sei que não devia fazer isso, mas, era inevitável!
A minha situação com Bernardo ia acabar ficando
insustentável e eu fui percebendo que com Erick era diferente, pois, nós éramos
iguais!
Não havia necessidade de esconder a minha verdadeira
natureza de Erick! Ele era como eu! Ele me entendia, me ajudava, me ensinava
com paciência... Ele bem que poderia ser o homem da minha vida!
Na hora do recreio, eu saí da aula de Matemática
acompanhada de Sissi e Erick. Bernardo estava me esperando do lado de fora.
_ Oi, Bernardo. _ eu disse meio sem graça, como se
estivesse querendo esconder alguma coisa. “Idiota, deixa disso, senão ele vai
perceber”. _ Olha só, quero te apresentar meu primo Erick, você deve se lembrar
dele na minha festa de aniversário, né?
_ De leve. _ Bernardo respondeu, colocando os braços
possessivamente ao redor dos meus ombros e lançando a Erick um olhar de
irritação. Seu rosto parecia uma mascara de mármore.
_ Erick, Bernardo. _ eu continuei com as
apresentações.
Erick apenas acenou com a cabeça, parecendo
indiferente à indelicadeza de Bernardo, sorrindo, divertido, com os seus
ciúmes.
Fomos todos juntos para a lanchonete e, embora
Bernardo procurasse ficar só comigo, o lugar estava lotado naquele dia e
tivemos que nos sentar todos juntos.
Durante todo o recreio Bernardo permaneceu muito
calado e piorou quando Erick me pediu com a expressão de pura inocência:
_ Será que você não poderia ir comigo até a biblioteca
agora? Eu ainda não havia visto essa matéria que o professor nos apresentou e
tive um pouco de dificuldade. Pelo que vi, é uma parte da Matemática que você
domina bem. Algum problema, Bernardo?
_ Nenhum, se Carol quiser ir com você. _ Olhar para
ele era como olhar para um Anjo Vingador!
_ Tudo bem _ eu disse _ vamos logo para não nos
atrasarmos para a próxima aula. _ Então, tchau gente.
Eu me levantei e segui Erick que saiu em direção à
biblioteca. Não esperei entrarmos na grande sala para perguntar:
_ O que foi que deu em você? Não percebeu a raiva de
Bernardo?
_ Só fiz isso para ajudar! Não é o que você quer?
_ Hã... Isso é que eu PRECISO fazer, mas não é o que
eu QUERO fazer!
_ Mesmo? _ ele me olhou no fundo dos olhos. _ Eu
imaginei que você estivesse meio dividida com seus sentimentos.
_ Hã? _ exclamei. Será que Erick havia adivinhado o
que estava se passando comigo? É claro que sim, pois, eu ainda não tinha
aprendido a fechar minha mente.
Eu suspirei profundamente.
_ Olha Erick, muito obrigada por tentar me ajudar,
mas, me deixa resolver sozinha essa parte da minha vida, tá bom?
_ Ok, ok, desculpe. _ ele disse, levantando as mãos. _
Não pensei que estivesse atrapalhando.
_ Tudo bem. Eu preciso mesmo me afastar de Bernardo.
Mas, da próxima vez, DEIXA COMIGO, tá?
_ Tá bom, não precisa ficar assim. Vamos embora senão
chegaremos atrasados à aula de História.
Na saída da sala sua mão tocou meu braço sem querer.
Foi como se eu tivesse levado um choque elétrico. Nós dois paramos e nos
encaramos, sem falar nada, perdidos em nossos olhares. Poucos segundos depois a
sirene tocou, anunciando o fim do recreio e nós despertamos do nosso êxtase,
indo direto para a sala de aula.
Na hora de ir embora, Bernardo estava a minha espera e
quando eu saí da minha sala com Erick ao meu lado ele pareceu não gostar nada
disso.
_ Esse tal de Erick vai seguir você por todos os lados
agora?
_ Ele é novo na cidade e na escola, não conhece
ninguém além de mim! _ essa foi uma das desculpas mais esfarrapadas que eu já
disse em toda minha vida.
_ Ele conhece a Sissi também.
_ Mas não é a mesma coisa. Ele acabou de conhecer a
Sissi e eu sou prima dele, a gente se conhece desde a infância! _ menti.
Fomos andando em direção a minha casa formando um trio
bizarro: Bernardo estava emburrado sem dizer nada enquanto eu me mantinha
visivelmente sem graça tentando fazer as coisas parecerem normais e Erick
ficava fingindo não perceber a animosidade de Bernardo, falando apenas
abobrinhas.
Ao chegarmos à porta de minha casa, Bernardo se
despediu de mim mais rápido do que o necessário, dizendo para Erick:
_ Já tá na hora da gente ir, né? _ Seu ciúme era
visível.
_ Pode ir andando, Bê, quero entrar para cumprimentar
meus primos.
Os olhos de Bernardo brilharam em brasa. Girou sobre
os calcanhares e saiu pisando duro.
_ Você não tem que entrar, né? _ eu disse num
sussurro.
_ É claro que tenho, ainda temos mais aulas de magia,
você se esqueceu?_ ele disse, com a fisionomia inocente.
_ Mas você não podia entrar pelos fundos? Tinha que
mostrar pro Bernardo que vai continuar comigo?
_ Mentir para o namorado não é uma boa saída,
Carolina. _ ele disse isso com um sorriso angelical.
_ Erick, essa NÃO é uma situação normal! Eu não posso
falar a verdade pro Bernardo!
_ Encare isso como uma prova, se ele te ama, vai
confiar em você.
_ Oh! Deus! Por que tem que ser assim? _ eu rolei os
olhos.
_ Porque seu destino já está traçado. _ Erick ficou
subitamente sério. _ E isso não é uma brincadeira.
_ O que não significa que tenho que deixar Bernardo
com raiva.
_ O que não significa que Bernardo não possa saber que
vamos passar muito tempo juntos.
Erick me venceu pelo cansaço. Eu estava cansada de
discutir com ele.
_ O que é que nós vamos treinar hoje?
_ Fazer objetos sumirem e aparecerem, talvez? Nós
poderíamos brincar de esconde-esconde_ ele piscou, marotamente, depois
continuou a falar com inocência _ assim treinamos duas coisas, porque, para que
eu não descubra onde está o objeto, será preciso que você feche a sua mente.
_ Tudo bem. Vamos entrar, então.
Fomos direto para o meu quarto. Isso já estava se
tornando um hábito. Ah! Se Bernardo soubesse que Erick ficava comigo trancado
no quarto... E ele era devastadoramente lindo e forte! Para evitar mais
confusões, eu resolvi pensar somente na parte prática, enxergando Erick apenas
como meu professor de magia e não como um bruxo espetacular, apenas um pouco
mais velho do que eu e muito sedutor.
Eu estava ficando boa nos treinamentos: Se, no
princípio Erick descobria todos os objetos que eu escondia, ao final, ele já
não conseguia mais saber onde estavam as coisas. Ele me explicou que primeiro
eu tinha que me concentrar no objeto, depois, no lugar onde eu queria
escondê-lo e depois, fechar a mente, para que ninguém pudesse descobrir onde
estava o objeto.
No início foi complicado, pois, me eu me concentrava
tanto no objeto e no lugar onde eu queria escondê-lo, que não conseguia fechar
a minha mente, deixando claro para Erick onde o objeto estava. Somente depois
de treinar muito e usar a técnica de pensar em outro lugar que não fosse o
lugar onde o objeto estava é que consegui despistar Erick.
A companhia
dele era muito agradável e me deixava relaxada e feliz, pois, perto dele eu
podia ser eu mesma, sem disfarces.
À medida que os dias foram passando, ficar com Erick
era mais fácil do que ficar ao lado de Bernardo, pois, com ele eu precisava
ficar medindo as palavras o tempo todo e tinha que mentir sobre uma série de
coisas, sem contar as inúmeras brigas que tínhamos por causa do ciúme que ele
tinha da companhia constante de Erick ao meu lado.
Erick era maravilhoso comigo o tempo todo, mas, ele me
deixava insegura às vezes. Havia momentos em que eu tinha certeza de que ele
sentia por mim a mesma coisa que eu estava sentindo por ele, havia momentos em
que eu sentia que ele realmente havia
me beijado naquele sonho e que ele sabia
disso. Por outro lado, havia momentos também em que ele se distanciava e
ficava perdido em seu próprio mundo, como se a nossa proximidade o incomodasse.
Ele não deixava de ser gentil, mas, ficava polido e formal, como se estivesse
comigo somente pela obrigação de me proteger e me ensinar. Isso me deixava aturdida
e às vezes eu sentia uma vontade imensa de jamais tê-lo conhecido.
2 comentários:
Aeee Prabéns por todos os seguidores Val! voce merece (:
beijos!
Obrigada querida!!! Beijos
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