OUTONO
Valéria
Schmitt
OUTONO
Valéria Schmitt
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Nacional-2008
1ª Edição
CAPA- Foto publicada em
caixadeimagens.blogspot.com.br
DEDICATÓRIA
Aos meus filhos, Raphael e Lucas, foram
suas aventuras que me inspiraram.
PREFÁCIO
Carolina Jardim é uma adolescente que
está feliz com sua pacata vida e não entende porque sua mãe insiste tanto em
comemorar seus dezesseis anos em alto estilo, embora não negue que a notícia da
festa tenha aumentado sua popularidade na escola e feito com que ela começasse
a namorar o garoto com o qual havia sonhado durante toda a sua vida.
Na festa de comemoração dos seus
dezesseis anos, Carol conheceu Erick Tatcher, o enigmático filho do lindíssimo
casal de amigos de seus pais e a venerável Ambrosina.
Após a meia-noite, a revelação: São
todos bruxos! Carol também é uma bruxa de imensurável poder que tem a missão de
proteger toda a comunidade bruxa!
Dividida entre dois amores, protegida
todo o tempo pelo estonteante e misterioso Erick, perseguida de morte por
Hipollitus, um bruxo que é capaz de tudo para conseguir o PODER, conseguirá
Carol sobreviver e proteger os bruxos que dependem dela?
CAPÍTULO 1
Surpresas nem sempre são agradáveis
Não existe nada pior do
que você dormir achando que é uma pessoa e, no dia seguinte, descobrir que é
outra beeeem diferente. Se você nunca passou por essa experiência, se ajoelhe
em três baguinhos de milho e agradeça a Deus por isso, porque não é nem um
pouco agradável.
E mais: Se alguma vez
você começar a perceber que coisas estranhas acontecem quando você está
presente, ignore, faça de conta que não está nem aí. É a melhor solução, porque
se você começar a se preocupar, você vai acabar se metendo em mais encrencas,
podendo até descobrir coisas que não quer. Foi assim comigo...
Aquele havia sido um dia
comum na escola… As mesmas aulas de todos os dias, Leandro e Gustavo fazendo
gracinhas, a professora de História irritada, Bernardo me ignorando
completamente e Sissi, minha melhor amiga, me dizendo para resolver a minha
situação de amor platônico: _ “Declare-se ou esqueça-o”! _ (como se fosse
fácil).
Eu continuava
inconformada com minha aparência e pensava que, com quase dezesseis anos eu
deveria ter um pouco mais de busto, pernas que não me fizessem parecer uma
cegonha, pés menores e cabelos lisos e loiros como os de Clara (os meus não são
lisos nem anelados e são de um castanho bastante comum). Tudo bem, não era
imprescindível que meus cabelos fossem lisos, eu também ficaria feliz se
tivesse os cachos que caem pelas costas de Sílvia, mas, eu gostaria muito de
ser um pouco mais loira... Natural.
Ah! Ainda não falei do
meu nariz, que tem a base muito larga, além de ser arrebitado, fazendo lembrar
um cachorrinho pequinês, tudo isso sem contar os óculos de horríveis aros de
tartaruga que me fazem ficar com aqueeela cara de arrogante intelectual, como
se eu fosse a versão feminina do Harry Potter. Augh!
Somente Sissi parecia não
se importar com o fato de eu não participar dos teatros e apresentações de
danças da escola, ser péssima no vôlei e não saber fazer mais nada a não ser
desenhar caricaturas engraçadas.
Tá bom, sou boa em
Biologia e Português. Ah! E também corro muito (o que faz com que o professor
de Educação Física fique todo o tempo me chamando para participar das
competições de corrida por causa do tamanho das minhas pernas), mas, tudo isso
nunca fez com que eu ficasse mais popular na escola... É tudo tão difícil,
parece que eu não me encaixo em lugar nenhum, é como se eu fosse apenas mais um
carneirinho sem graça no meio de um rebanho enorme. Além do mais, eu nunca
aceitei o convite do professor, porque eu faço de tudo para ficar invisível,
mesmo estando na turma do segundo ano do ensino médio e sendo quase uma
formanda.
Depois de ter passado
toda aula de Inglês contando as bolinhas da blusa da professora, eu saí
correndo da sala assim que fomos dispensados. Naquele dia nós havíamos tido
aula também à tarde e eu estava inquieta com alguma coisa que não sabia o quê.
Não esperei Sissi, embora nem eu mesma tivesse entendido o motivo.
À medida que fui andando
eu fui sentindo uma coisa esquisita, como um hálito gelado soprando na minha
nuca. Aquela sensação me deu arrepios de pavor. Dobrei apressadamente a esquina
logo abaixo da escola particular ainda sentindo o frio gélido nas minhas costas
e, também não sei por que, passei por dentro do jardim no centro da cidade,
coisa que nunca faço, quase tropeçando em duas crianças que andavam de
bicicleta quando fui correndo em direção à pequena curva onde, anos atrás, os
namorados passeavam à noitinha. Eu queria ficar sozinha.
Eu me sentei no cantinho,
bem escondida e fiquei olhando para o coreto construído há mais ou menos seis
anos, uma réplica do antigo coreto da pracinha. A sensação gelada na minha nuca
havia desaparecido. Antes do coreto, quando eu era criança, havia um aquário
vazio lá, no mesmo lugar. Aliás, eu não sei por que não fazem a pracinha voltar
a ser como era antes. Já que recolocaram o coreto, poderiam reconstruí-la nos
moldes antigos também. Pelas fotos da cidade antiga que ficam expostas em alguns
lugares dá pra ver que ela era bem mais bonita do que hoje.
Minhas conjecturas sobre
a pracinha não duraram muito. Eu voltei a me sentir inquieta, perturbada com
alguma coisa que eu não conseguia identificar. Estranhando o meu comportamento,
eu me forcei a sentar em um dos bancos que margeavam a praça. Mal havia acabado
de me sentar, um, dois, três, quatro, e, logo em seguida, duas dezenas de
pombos se aglomeraram ao meu redor. Eu busquei restos de biscoito dentro da
minha mochila e os triturei nos dedos, distribuindo a farinha entre os pombos.
Senti novamente o frio na
nuca... Dessa vez foi pior, como se mãos geladas me envolvessem num abraço de
morte. Meu Deus! O que seria isso?
Aparentemente não havia
motivos para a minha inquietação e eu estava tentando me convencer disso.
Estava claro que nada de ruim iria acontecer, mas, então, porque aquela
sensação de que eu estava perdendo alguma coisa de muito importante? Essa era
uma das coisas estranhas que aconteciam comigo. Tipo, como quando eu ficava
sozinha em meu quarto, deitada na cama perdida em devaneios, eu imaginava uma
cena, coisas sem sentido que eu sabia que não haviam acontecido e poucos dias
depois eu via aquela coisa acontecer exatamente como eu havia imaginado.
Outra coisa estranha
acontecia quando eu ficava brava com alguém: Inevitavelmente alguma coisa muito
ruim acontecia com essa pessoa. Não que eu fizesse questão disso, mas,
acontecia. Bem, se eu for começar a contar todas as coisas estranhas que
acontecem comigo, eu não vou conseguir parar.
Eu vesti meu casaco por
causa do frio súbito e, ainda tentando me convencer de que nada de ruim iria
acontecer naquele dia, tentei caminhar tranquila até chegar a minha casa, não
por que não tivesse deveres a fazer, mas, para tentar me acalmar, aproveitando
o delicioso ar de fim de tarde daquele dia.
_ Oi mãe!_ Eu disse
mecanicamente enquanto empurrava minha mochila para um canto e tirava os tênis,
me jogando no sofá da sala.
_ Carolina! Quantas vezes
eu preciso falar que você não deve tirar seus tênis no meio da sala? E que
mochila de escola não se joga em um canto qualquer da casa? Por que será que eu
tenho a impressão de que falo com as paredes e não com a minha filha? _ eu
havia me esquecido que minha mãe preza muito essa questão de educação. Sua
polidez é requintada, chegando às raias do exagero! Mamãe chegava ao cúmulo de
dizer que sair à rua de cabelo molhado era falta de educação, pode isso? Eu
demorei muito a me adaptar na escola, porque, embora as meninas e meninos de lá
fossem bem educados, ninguém era tããão exageradamente educado quanto eu e,
então, eu acabava ficando meio destoada naquele meio.
Minha mãe tem o gênio
completamente diferente do meu, ela é risonha e tagarela, animada com festas e
reuniões, ao passo que eu herdei o jeito reservado de meu pai, o que,
definitivamente, não ajudava em nada a minha falta de popularidade.
Enquanto ela continuava a
falar sobre não jogar os tênis e a mochila pela casa e sobre normas de boa
educação, eu olhei para ela com aquela cara de “sermão de novo?” e continuei
sentada no mesmo lugar. Parecia que eu não iria sair de lá nunca quando uma
palavra dela me fez dar um salto. “FESTA”? Eu havia ouvido a palavra festa?
Comecei a prestar um pouco mais de atenção na sua fala tresloucada:
_... Já fiz uma lista de
todas as famílias que não podemos deixar de convidar e também dos parentes mais
velhos, aqueles que a viram somente quando você era apenas um bebê: Tia Rovena,
tio George, tia Samanta...
_ Mãe! _gritei _Você não
pode estar falando sério! Caraca! Que festa é essa?_ eu sabia que alguma
coisa de muito ruim estava para acontecer.
_ A comemoração de seus
dezesseis anos, é óbvio! O que mais poderia ser? E não fale gírias, minha
filha, por favor, não é apropriado.
_ Não! Não, não, não,
ene-a-ó-til, viu mãe? Não quero festa nenhuma, pô! _ eu disse, andando de um
lado para o outro e ignorando a última parte da sua fala.
_ Mas, filha _ ela parou
na minha frente segurando os meus tênis em uma das mãos e a minha mochila na
outra _ é absolutamente importante que você tenha essa comemoração dos seus
dezesseis anos!
O que poderia haver de
tão interessante em alguém completar dezesseis anos? Exceto por me
ser permitido votar, eu não via nada de diferente em fazer dezesseis anos. Eu
até ficaria muito feliz em poder votar dali em diante, mas eu não queria uma
festa!
Além do mais, a idade em
que normalmente se faz uma grande festa é quando se completa quinze anos e não
dezesseis! Todas as minhas colegas de escola tiveram uma “festa de quinze”! Somente
os meus quinze anos não foram comemorados porque meus pais foram
inexplicavelmente categóricos ao me negarem uma festa de debutante. Na verdade,
eu não fazia muita questão, apenas acho que ficou muito estranho somente eu não
ter uma festa de debutante na minha classe. Talvez agora eles estivessem
querendo se redimir comigo ao fazer essa festa de dezesseis, só que eu não
queria nada disso! Minha mãe continuou a
falar desesperadamente:
_ É imprescindível que
façamos uma festa! Convidaremos todos os seus colegas de escola, naturalmente,
e também seus amigos de infância, vizinhos... Ah! Será uma festa memorável! _
Oh! Não! Ela estava com aqueles olhos sonhadores que me faziam tremer. Isso
significava que ela não iria desistir!
_Mãe! Olha só... _ eu
disse pausadamente, olhando-a nas profundezas dos seus olhos azuis-violeta,
numa tentativa desesperada de parecer calma, sem, no entanto, obter nenhum
sucesso _ Eu não quero festa alguma! Eu NÃO PRECISO DE FESTA! Eu não quero meus
colegas de escola aqui em casa e muito menos parentes que não conheço
comemorando meu aniversário! _ mas mamãe não me ouviu, antes que eu acabasse de
falar, ela já havia subido para o andar de cima com minha mochila e meus tênis.
Passei as mãos
nervosamente pelos cabelos. Ah! Não!
Isso não podia estar acontecendo! Eu preferiria mil vezes ser engolida por um
algodão-doce gigante! Imaginei Bernardo recusando educadamente o meu convite,
Clara dizendo que sentia muito, mas, tinha marcado outro compromisso e Sílvia
sacudindo seu cabelo cacheado e falando que ia passar o fim de semana fora,
enquanto aqui em casa viria um bando de parentes que nunca ligaram para mim
para comer salgados finos juntamente com Sissi, que era a única que não iria
faltar para comemorar comigo os meus solitários dezesseis anos.
_ Todos os seus colegas
estão recebendo convites exatamente nessa mesma hora! _ mamãe reapareceu,
descendo as escadas.
_ “Não!” _ pensei mais
uma vez. _ “Onde está o algodão-doce gigante? E como todos estavam recebendo os convites nessa mesma hora?” _ Estava
claro que aquilo era somente um jogo de palavras...
_ E, para que não
tenhamos surpresas, os convites estão com R.S.V.P. _ minha agitada mãezinha
andava de um lado para o outro, mexendo nas flores em cima da mesa de centro.
Ah! Não! Ela ainda me fez
pagar o mico de colocar um "respondez s’il vous plait" nos convites
do meu aniversário! O que o pessoal da escola vai pensar? Tipo, que eu sou
esnobe ou coisa assim?
Eu não sabia mais o que
fazer. Minha mãe tinha o péssimo hábito de sempre conseguir o que queria! Ela
era incansável e esse era o seu mais novo objetivo. Ela usava todos os
artifícios, bem como seu charme e carisma para conseguir tudo o que queria de
todos, incluindo a mim e a meu pai.
A campainha tocou e, como
se fosse mágica, dezenas de mensageiros chegaram a um mesmo momento na porta de
minha casa. Minha mãe estava eufórica:
_Veja! Todos aceitaram
nosso convite! Até Bernardo, aquele bonitão que joga futebol, confirmou sua
presença!
Caraca! Ela conseguiu de
novo!
_ Você disse B-Bernardo?
Ele vem?
_ Meu amorzinho! Quem deixaria
de vir à festa da menina mais popular da escola? _ ela me deu um beijo na
testa, fazendo com que eu me sentisse ridícula.
“Minha mãe pirou! Eu,
popular?” pensei.
_Oh! Sílvia, Clara,
Sissi, Leandro, Gustavo, Tia Rovena, tio George, tia Samanta... Todos virão!
Que ótimo! _ mamãe parecia uma criança abrindo seus presentes na manhã de
natal. Não imagino o que ela fez para conseguir isso...
Eu não estava entendendo
mais nada! Em primeiro lugar, TODAS as pessoas receberam o convite ao mesmo
tempo, depois, TODOS responderam à mesma hora. Mamãe conseguiu que a menina
mais bonita da classe concordasse em vir a minha festa e até mesmo Bernardo,
que mal me vê na escola, aceitou seu convite! Inacreditável! E aqueles parentes
que eu nunca soube que existiam? O que esse pessoal vinha fazer na minha festa?
Nunca ligaram para mim, nunca me fizeram nem uma só visita!
Escutei o toque de meu
celular e vi a foto de Sissi piscando no visor do aparelho.
_Alô! _ atendi com voz
desanimada, enquanto meu gato Puff se enroscava nas minhas pernas.
_ Carol, como conseguiu
esconder isso de mim?
_ Hã? Não sei do que você
está falando.
_ Ah! Conta outra! Tô falando da sua festa! Aquele convite
liiiindo! E com um show do Poeira na Estrada!
_Quê? _ “Poeira na
Estrada?!?! O que a banda mais famosa do momento iria fazer na minha festa de
aniversário?” _ pensei.
_ Alôôô!
_Tô aqui, Sissi, mas,
juro que eu não sabia de nada. Minha mãe acabou de me contar sobre a festa. Eu
não queria isso e não teria deixado acontecer se tivesse ficado sabendo antes!
_ Que bobagem! A cidade
inteira só fala nisso!
Então era verdade que
TODOS haviam recebido os convites ao mesmo tempo. E, numa cidade do tamanho de
Pitangui, o assunto do momento deveria estar sendo minha festa de aniversário.
Poeira na Estrada? De onde minha querida e maluca mãe tirou isso? Meu desespero
aumentou. De nada adiantaria esperar meu pai chegar porque ele sempre se rendia
aos desejos de mamãe e, no momento, seu principal capricho parecia ser a minha
festa de aniversário!
_ Alô-ow!
_ Fala. _ eu estava
atordoada!
_ COMO sua mãe conseguiu
uma apresentação do Poeira em SUA festa de dezesseis anos?
_ Hã!... Tipo, acho que
meu pai conhece o pai deles..._ eu disse, esperando que a desculpa fosse
convincente, pois, eu NÃO FAZIA a menor ideia de COMO mamãe havia conseguido
isso.
_ Peraí! E você NUNCA me
contou isso?
_ Hã!... Eu não sabia...
_ Ah! Pra cima de mim,
Carolina! O que você queria era me manter longe para eu não ficar pedindo autógrafo
ou foto deles pra você! Jamais pensei que você fosse tão egoísta! Tchau!
Ela desligou o telefone!
Sissi estava bravíssima comigo por causa de uma coisa que eu sequer sabia! Eu
desliguei também e fiquei bastante chateada. Pôxa! Além de ter que engolir uma
festa que eu não queria e ter que aguentar ser o centro das atenções (coisa que
eu detesto), agora minha melhor amiga estava com raiva de mim!
Passei o restante da
tarde ouvindo música no meu i-pod, olhando para as paredes cor de rosa do meu
quarto. Não quis jantar, o que fez minha mãe ter um chilique:
_ Você vai acabar doente,
na sua idade não se deve ficar sem comer, você vai parar de crescer (Ah! Isso
era tudo o que eu queria), vai ficar com anemia, raquítica, magra e sem graça.
_ e mais outras coisas que eu não fiz questão de escutar.
Mesmo com todo aquele
discurso, dessa vez ela não conseguiu me vencer e eu fiquei um longo tempo
olhando a noite pela grande janela pintada de branco, de onde pendiam cortinas
transparentes com bordados delicados. Papai bateu na porta do meu quarto, mas,
foi sensível o suficiente para ver que eu não queria conversar e desistiu, uma
coisa que seria completamente impossível para minha mãe.
Meu pai, Albano Jardim, é médico em Pitangui
e, apesar de não ter nascido aqui, é uma pessoa bastante querida por todos por
ser muito caridoso e cuidadoso com seus pacientes. Para ele nunca existiram
pobres ou ricos, ele enxergava apenas uma pessoa enferma precisando de sua
ajuda. Se os doentes podiam ou não pagar por seus serviços, isso não importava
a meu pai, o que interessava era a sua cura.
Minha mãe, Beatriz Couto
Jardim, também se tornou uma pessoa muito querida na cidade desde que se mudou
com a família para cá quando eu ainda era um bebê. Foi essa razão pela qual eu
não fiquei espantada que todos os convidados aceitassem comparecer à minha
festa. Ela é uma mulher bonita, daquelas que aparentam idade indefinida. Olhos violeta,
pele clara naturalmente rosada nas faces e cabelos louros, mantidos
impecavelmente cortados à altura dos ombros por Jacó, seu cabeleireiro
preferido.
Meus pais se
mudaram para Pitangui quando eu nasci, atraídos pela beleza das montanhas e
pelo ar puro da cidade que respira história, afinal, foi aqui que, entre 1713 e
1720 aconteceram as primeiras revoltas da colônia do Brasil contra as
imposições da Coroa Portuguesa. Cidade de povo bravo e corajoso, desde o tempo da
revolta contra o pagamento do Quinto do Ouro quando se apregoava que “quem
pagasse, morreria!” e centenas de moradores morreram tendo sido chacinados
pelos Dragões da Coroa de Portugal, que quiseram, inclusive, acabar com a Vila,
incendiando-a. Nessa época, o Conde de Assumar, governador da província das
Minas Gerais, já falava sobre os habitantes de Pitangui, se referindo a eles como
“gente intratável”. O espírito guerreiro desse povo passou de geração em
geração e permanece até hoje.
Nada disso,
porém, fazia sentido diante do imenso problema que eu tinha diante de mim: O que seria de mim dali
pra frente?? Nunca fui muito expansiva, nunca tive uma roda grande de amigos,
nunca fui boa em esportes, dança ou teatro... Sempre procurei ficar meio oculta
quando papai saía com mamãe para a Igreja ou para algum evento na cidade.
Eu devia meus olhos cor
de mel, que, de vez em quando ficavam verde-escuros, à mistura dos olhos azuis
de mamãe com os olhos castanhos de papai. Meu pai poderia passar despercebido,
mais ou menos um rosto comum, com olhos e cabelos castanhos, mas, ele tem um
inexplicável magnetismo no olhar e isso faz dele um homem encantador! Não
consigo me lembrar de alguém que tenha resistido quando meu pai pede alguma
coisa ou quer convencer qualquer pessoa.
Infelizmente, não herdei
o magnetismo de meu pai, nem os olhos azuis e os cabelos loiros de minha mãe.
Meu nariz é arrebitado como o dela, mas, tem a base larga e deselegante,
enquanto o dela é fino e delicado. Acho
que, definitivamente, em minha aparência eu não consegui reunir o melhor dos
dois lados! Augh!
Como eu já disse, eu
nunca fui uma garota popular nem na escola, nem em lugar nenhum, embora meus
pais fossem bem articulados e nós morássemos em uma bela casa com jardim.
Talvez meu temperamento introspectivo fosse uma das razões dessa impopularidade
ou talvez isso se devesse ao fato de que, apesar da minha educação esmerada,
minha família não era tradicional na cidade, não sei. Meus pais não eram
nascidos aqui e eram muito bem aceitos, mas, isso era outra história. E talvez
a razão da minha impopularidade fosse justamente essa minha educação
esmeradíssima. Vai saber!
Demorei a dormir,
preocupada com o dia seguinte. Deu uma vontade enorme de faltar de aula, mas,
não daria para fugir para sempre. Uma hora eu iria ter que enfrentar a
situação, então, que fosse logo! E eu teria que resolver aquela pendência com
Sissi também. Teria que explicar a inexplicável história do show do Poeira!
A escola estava
reformulando seus uniformes, então, estava sendo permitido usar roupas comuns
até que chegassem os novos. Coloquei uma calça bege e uma blusa do mesmo tom
porque essa cor me faz ficar invisível (o tom bege não combina com a minha
pele, ficando tudo igual, eu e a roupa de uma cor só) e resisti à tentação de
colocar uma fita nos cabelos. Escovei os
dentes rapidamente, peguei a mochila e saí sem tomar café da manhã.
Ao chegar à escola quase
tive um desmaio! Uma multidão se aglomerou à minha volta, falando sobre a festa
e sobre o show. Clara me deixou de queixo caído quando me convidou:
_ Sabe, eu estava
pensando, nós temos um uniforme de torcida que cabe em você... O que você acha
de participar do treinamento para o jogo do Torneio de Inverno de depois de
amanhã? _ Clara era a menina mais bonita da escola. Ela era meio impressionada
com os Estados Unidos, então, havia organizado uma torcida uniformizada como
aquelas que existiam nas escolas de lá para torcer nos campeonatos estudantis. Ela se intitulava “Chefe da Torcida”, e,
embora aqui no Brasil esse título não significasse grande coisa, parecia que
estava dando certo, pois, todas as meninas se candidataram a uma vaga na
torcida. Bem, todas, menos eu, é óbvio!
Então Clara estava me
convidando para participar da torcida?
“Não sei não.” _ pensei _
“Será que eu ficaria bem com aquela roupa?”.
Eu achava que minhas pernas eram muito
compridas para usar a minissaia branca plissada do uniforme e nem sabia se o
verde da blusa assentava com a minha pele.
_ Eu quero agradecer
muito pelo convite para a sua festa. _ era Sílvia que falava, balançando seus
cachos.
_ Imagina! Foi um prazer
_ menti.
_ Menina, queííísso!
Ficar frente a frente com o pessoal do Poeira é o quiá! _ Sílvia tinha um
delicioso sotaque do interior de Minas, que estava mais acentuado agora por
causa da excitação.
Até Leandro e Gustavo
pareciam estar fazendo menos palhaçadas naquele dia e Bernardo passou por mim e
disse: _ “Oi!” _ piscando um olho! Ah! Ele era lindo! Alto, loiro, olhos
cinzentos como um céu tempestuoso, rosto tipicamente nórdico, corpo atlético
forte e delgado.
“Eu tô pirando ou o quê?”
pensei.
Somente Sissi se manteve
à distância. Tentei falar com ela, mas ela disse que eu estava ocupada “demais
da conta” com meus novos amigos para precisar de sua atenção. No recreio,
parecia que toda a escola disputava um lugar ao meu lado e depois da aula eu
acabei indo ao treino da torcida, empurrada por Clara e suas companheiras.
Não tive mais
oportunidade de conversar com Sissi até chegar ao meu quarto, quando tentei
falar com ela pelo celular. Ela não me atendeu. Eu também tentei fazer as
lições de casa, mas, estava perturbada demais para conseguir me concentrar em
qualquer coisa.
Liguei o computador e
fiquei olhando as fotos que havia colocado no meu Facebook. Havia uma foto
minha e de Sissi onde eu escrevi: “Eu e minha melhor amiga”. Em outras fotos de
Sissi havia sempre a mesma legenda “minha melhor amiga”. Melhor amiga! Quem
diria que “a melhor amiga” iria deixar de falar comigo por causa de uma
bobagem! É verdade que eu estava bem chateada com ela porque nós éramos amigas
mesmo, do coração. Foi no ombro dela que eu chorei quando vi o Bernardo
namorando pela primeira vez e foi pra minha casa que ela fugiu quando descobriu
que sua mãe estava namorando o filho do gerente do banco, dez anos mais novo.
Enchi a
banheira com espuma de sabão e demorei muito tempo no banho. Lavei meus cabelos e os
sequei ao secador apenas para ter mais coisas a fazer. Saí para dar uma volta,
mas, estava muito frio lá fora, apesar de ainda ser outono! Em Pitangui, como
em todo o Brasil, o tempo era caprichoso, podia fazer muito frio no outono e
quase nenhum frio no inverno. Naquele dia em especial, o dia estava combinando
com a pequena cidade de quase trezentos anos e casas em estilo colonial,
incrustada nas montanhas de Minas Gerais. Eu gostava muito de morar aqui,
muitas vezes eu saía de casa somente para andar na rua e ficar olhando os
prédios. Em Pitangui há capelas, Igrejas e casarões históricos, minas de ouro a
céu aberto, matas, enfim, é a cidade perfeita para se morar e se visitar. Eu poderia me transportar
no tempo e imaginar que estava no século XVIII, mas, meu estado de espírito não
estava colaborando.
A noite não chegava e eu
já não sabia mais o que fazer para passar o tempo. Tentei assistir a um filme,
mas, também não me concentrei.
Enfim, a noite chegou e
eu fui me deitar, torcendo para que o sono viesse depressa.
O dia seguinte na escola
foi pior ainda que o anterior. Eu parecia uma celebridade (ai, que horrível!),
Clara me chamou para ir com ela a uma boutique para dar uns pitacos na escolha
da roupa que ela queria comprar para a festa. Como a dona de lá é amiga de
minha mãe, eu concordei. Sílvia também iria, é claro e também Cláudia, Marina e
Sara... Formaríamos um formidável grupo de compras.
Convidei Sissi para ir
conosco comprar roupas e ela disse apenas: _ “Não, obrigada, flor! Você já tem
abelhas demaaais da conta te rodeando!” _ me deixando claramente magoada. Ela
me chamou de flor! Isso já estava ficando insuportável!
Tivemos novo treino da
torcida e eu procurei ficar bem atrás, ainda que a coreografia não fosse assim
tão difícil. O jogo seria no dia seguinte e eu vi que Bernardo observava-nos
furtivamente durante todo o ensaio. Como jamais havia participado de treinos
antes, a não ser no dia anterior, não sabia se ele costumava observar alguém
que lhe interessasse.
Entrei em casa
ruidosamente, batendo a porta sem querer o que fez com que minha mãe percebesse
minha chegada. Ugh!
_ Querida! Você está
aqui. _ ela veio correndo com um folder nas mãos _ Veja o Buffet que encomendei
para a festa. Ah! A mãe de Clara me telefonou e disse que vocês vão sair para
comprar roupas, isso é muito bom, você e Clara precisam ser mais amigas. Seu
vestido da festa já está encomendado, mas, quero que você compre uma roupa pra
você também. Escolha uma que te deixe bem bonita! _ e saiu logo depois de me
dar um beijo na testa, mal imaginando a confusão que ela havia armado na minha
pacata vida.
Eu passei o resto do dia
no meu quarto com a porta trancada e Puff deitado preguiçosamente no meu colo.
Parecia que somente ele me entendia. Ao menos ele me dava carinho e não exigia
que eu lhe explicasse o inexplicável. Novamente eu não quis jantar e a cena se
repetiu, pois, mamãe não se conformava com a minha falta de apetite.
À noite, como no dia
anterior, o sono demorou a vir. Minha vida, antes tão tranquila, havia virado
de ponta-cabeça! Mesmo não gostando do meu nariz, mesmo sem ser popular na
escola, mesmo sem ter a atenção de Bernardo (não sei ainda se aquela atenção
era para mim, mas, ele me viu treinando), eu era mais feliz antes...
Está claro que eu tinha
somente Sissi como amiga, mas, era uma amiga leal, bom, pelo menos eu achava
que ela o era, não sei se uma amiga leal me abandonaria como ela estava me
abandonando. Eu gemi, chamando a atenção de Puff. Não sabia nem se ela viria à
minha festa! E Sissi nunca precisou ficar só comigo na escola como ela ficava,
ela é uma garota brilhante, de olhos verdes e cabelos castanhos bem escuros,
quase negros, que formam um interessante contraste com sua pele cor de mel. Eu
sou diferente, nunca tive a pele como a dela _ a minha cor é uma mistura da
pele clara de mamãe com a pele mais morena de papai _ e ainda por cima uso
óculos, sou tímida até morrer e não me considero nem um pouco bonita. Eu gemi
de novo e Puff ronronou no meu ombro.
De nada adiantaria
conversar com minha tresloucada mãezinha, ela estava animada demais com a
festa, jamais me ouviria. Além do mais, creio que não daria mais tempo para
voltar atrás.
Foi somente ao ouvir o
som irritante do despertador que percebi que havia conseguido o improvável, dormir.
Era o dia do jogo da minha classe, então, eu pulei da cama, tomei uma ducha
rápida, amarrei um laço de fita verde nos cabelos e engoli meia tigela de
granola com iogurte. Eu sabia que estava querendo chegar logo ao Poliesportivo
para ver Bernardo jogar.
Caminhei depressa para
chegar logo ao Poli. Eu estava um pouco enjoada, talvez pela ansiedade de
participar da torcida... Ao chegar, toda a turma, à exceção de Sissi, estava à
minha espera. Isso estava se tornando um péssimo hábito! Não havia um lugar que
eu pudesse ir sem que um cortejo me acompanhasse.
O jogo parecia não
começar nunca. As pessoas estavam se aglomerando nas arquibancadas e Clara
ficava o tempo todo em frente ao espelho ajeitando seu uniforme.
_ Pára de ficar se
olhando no espelho, Clara, cê já tá bem bonita. _ Silvia brincou com aquele
inconfundível sotaque mineiro.
_ Eu hoje tô naqueles
dias de me olhar no espelho e me sentir horrorosa. Vocês nunca sentiram isso
não, gente?
Houve um murmúrio de
“não, queííísso! Você tá liiiiinda!”, que foi interrompido por Cláudia:
_ Peraí. _ ela começou. _
É normal a gente se sentir assim de vez em quando, né Carol?
A pergunta me pegou de
surpresa:
_ Hã! Tipo assim, eu
sempre me sinto horrível quando me olho no espelho._ eu respondi encabulada.
O que eu ouvi em seguida
foi uma chuva de “Ohs!” e “Nããão! Você é tão bonita, queísso!” de todas as
meninas querendo me consolar de alguma forma. Escutamos a voz do professor de
Educação Física nos chamando e saímos correndo do vestiário em direção à nossa
posição na quadra. Começamos a nossa coreografia. Isso era meio engraçado
porque não era comum em nossa cidade, acho que até nas cidades maiores também
não. Não faz parte da nossa cultura, por isso, os meninos nos olhavam com
curiosidade antes do começo de jogo.
Nossa classe estava disputando Futsal e,
quando o jogo começou, logo no início, o nosso time já saiu fazendo o primeiro
gol, devendo essa vantagem em grande parte à perícia com que Bernardo jogava! A
torcida dançava, animada, de vez em quando recebendo alguns olhares dos
jogadores.
Bernardo estava com a
bola, incrivelmente bonito em seu uniforme. Leandro correu para o seu lado e
recebeu a bola, estávamos com uma pequena vantagem. Bernardo pegou novamente a
bola e chutou. Mais um gol para nós. Começamos a dançar novamente, incentivando
o time.
Do meio do jogo em
diante, porém, o outro time começou a ter mais o domínio da bola e empatou o
placar, fazendo 2x2. O jogo já estava no final, o placar estava empatado e tudo
dependia de uma jogada só. Gustavo chutou para Bernardo que correu com a bola
nos pés em direção ao gol. Não havia marcação nenhuma em cima dele e o pessoal
nas arquibancadas foi ao delírio. No entanto, o inimaginável aconteceu: Sem que
ninguém pudesse explicar como, ele caiu pesadamente no chão e ficou sentado
olhando a bola passar por ele.
Houve um silêncio mortal. Parecia que até o ar
estava parado. Eu nunca vou saber direito o que ocorreu naquela hora, a única
coisa que sei é que eu olhei para a bola, desejando desesperadamente que ela
parasse a fim de que Bernardo se levantasse e corresse até ela. O que aconteceu
a seguir foi assombroso: A bola saiu do chão e ficou parada no ar, como se, por
vontade própria, estivesse esperando que Bernardo se levantasse e a mandasse
para o gol. O mais impressionante disso tudo é que nenhum dos jogadores do time
adversário se mexeu, era como se todos estivessem paralisados. Nos minutos que
se seguiram até Bernardo se levantar do chão eu senti como se o tempo tivesse
parado. O público no Poliesportivo veio abaixo quando Bernardo se levantou com
um salto e deu uma cabeçada na bola, marcando um estupendo gol de cabeça e
dando a vitória para o nosso time.
O interessante é que
ninguém parecia ter percebido o que havia acontecido. As meninas da torcida
ficaram impressionadas com a rapidez com que Bernardo se levantou e alguém
chegou a comentar que ele não havia caído, mas, ninguém falava sobre a bola
parada no ar e nem sobre os jogadores paralisados em campo, era como se isso
não tivesse acontecido. Eu nunca conseguiria explicar aquele estranho fenômeno,
inédito num jogo de futebol, só sei que, dessa forma, Bernardo se tornou o
grande herói do dia.
Quando o placar marcou o
gol para o nosso time e soou o apito final, eu quase desmaiei: Bernardo saiu
correndo de onde estava e me pegou pela cintura rodopiando comigo pela quadra
afora! Era como se ele soubesse o quanto eu havia desejado que aquilo
acontecesse, pior, como se ele me responsabilizasse pelo que houve com a bola,
mas, com toda certeza, eu não tinha nada a ver com aquilo! Ou será que tinha?
Afinal, eu havia desejado tanto! Mas, não! É claro que eu não conseguiria fazer
uma bola parar no ar, tinha graça!
Quando, enfim, Bernardo me colocou no chão,
ele me olhou enigmaticamente e me deu um rápido beijo nos lábios, me deixando
paralisada, na tentativa de me equilibrar sobre minhas próprias pernas enquanto
ele se afastava sorrindo.
Eu ainda fiquei parada,
com a mão sobre os meus lábios recém-beijados. Eu nunca havia sido beijada
antes e nem em meus mais audaciosos sonhos eu esperava que meu primeiro beijo,
ainda que rápido, fosse dado por Bernardo, o garoto com quem eu havia sonhado
tanto nos últimos quatro anos. Meu coração dava cambalhotas dentro do peito,
minhas pernas pareciam gelatina, eu não conseguia sair do lugar, até que Sissi
chegou perto de mim, irônica:
_ Desencanta Cinderela!
Seu príncipe tá lá longe com os amigos, comemorando a vitória!
Eu não conseguia entender
o porquê daquela raiva de Sissi. Será que ela acreditava mesmo naquela história
que eu havia escondido tudo dela, a festa, a apresentação do Poeira e tudo o
mais? Ou será que ela simplesmente não conseguia me ver feliz e estava com
inveja do que estava acontecendo comigo? Será que ela nunca foi minha amiga de
verdade e gostava de mim só porque eu era a única pessoa que dava atenção a
ela? Ela também era a única pessoa que me dava atenção naquela época em que eu
era apenas um patinho feio.
Bem, para ser sincera,
patinho feio eu ainda continuava a ser, mas, agora eu era um patinho feio
popular e minha popularidade não tinha nada a ver com amizade. Meus novos
“amigos” não eram amigos de fato, só se aproximaram de mim por interesse! Como Sissi
não percebia isso? Ela acha que eu estou deslumbrada com tudo e não quero mais
saber dela? Não é nada disso, mas eu não tenho sequer como me explicar... Ela
não atende aos meus telefonemas, não me permite falar quando eu chego perto e foge
de mim o tempo todo!
Eu ainda estava perplexa
com o que havia ocorrido durante o jogo, mas, o que mais me assustava era que ninguém parecia ter notado nada de
diferente! Como explicar isso? Com os neurônios quase derretendo, eu resolvi
não pensar mais naquilo e fui lanchar com Clara e as garotas, que não falavam
em outra coisa, senão na esperteza de Bernardo.
2 comentários:
Amei a premissa e o primeiro capítulo! O fato de ser ambientado no Brasil faz com que a história pareça até possível, real... haha
Parabéns pela escrita e pela história! Vou correndo ler o segundo capítulo!
Beijos,
Samanta.
http://diversaoempapel.blogspot.com.br/
Muito obrigada Samanta! Beijos!!!
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