terça-feira, 2 de julho de 2013

OUTONO 4º Capítulo

E chegou o dia em que completamos 100 seguidores! Conforme prometi, aqui vai o quarto capítulo de OUTONO! Aproveitem!!!!


CAPÍTULO 4
Hypollitus

Existe um tipo de pesadelo que não tem fim, é aquele que começa quando a gente acorda e percebe que aquilo que aconteceu foi real, não foi sonho... Esse é o pior dos pesadelos, porque não se pode acordar dele! Meu Deus! Tudo aconteceu de verdade, não foi sonho! A minha festa, meus amigos “normais” se despedindo mais cedo, a declaração oficial de que sou, ou melhor, que somos todos bruxos... Aquela intrigante profecia que eu não sei de que se trata... Tudo foi real!
Eu não queria me levantar da cama, mas a luz vermelha do relógio digital no criado mostrava que já era nove horas da manhã e meus pais já deviam ter se levantado.
Eu estava vivendo um grande paradoxo, pois, ao mesmo tempo em que queria saber mais sobre minha vida (que, agora eu descobria, eu não sabia nada), eu não queria enfrentar a realidade!  Eu queria continuar lá, no aconchego do meu quarto, na minha cama, com meu velho pijama...
Sem escolha, eu coloquei um leve vestido florido que lembrava a primavera, talvez para expulsar o outono que havia tomado conta da minha vida, prenunciando um inverno muito negro. Passei um batom combinando, deixei os cabelos soltos e saí do quarto. Normalmente eu não me maquiava desse jeito num domingo de manhã, mas, eu precisava desesperadamente de alguma coisa para me animar.
Desci as escadas rumo à cozinha por pura falta de opção. Quando eu cheguei, vi meu pai sentado à mesa junto com minha mãe e Ambrosina. Eles estavam tomando café e na mesa havia leite, suco, cereais, frutas, bolo de fubá, biscoito de queijo, restos do bolo de aniversário, pão de queijo e queijo Minas meia cura. Mamãe servia suco à Ambrosina, que comia uma fatia de mamão. Foi aí que eu me lembrei de que Ambrosina me disse ontem que ela estaria com meus pais para me dar mais explicações.
_ Bom dia! _ eu disse.
Minha mãe se levantou e me deu um beijo amoroso. Papai segurou a minha mão e Ambrosina me deu tapinha de leve na cabeça, enquanto dizia:
_ Ânimo, querida! Hoje você vai entender tudo. E você verá que as coisas não são tão ruins quanto você pensa. _ Será que ela havia lido meus pensamentos? Quer dizer agora que alguém me diz que sou uma bruxa, que minha família é toda bruxa e eu tenho que ficar feliz?
Como eu me recusasse a comer qualquer coisa, minha mãe nos convidou para irmos conversar na sala, onde era mais confortável.
 _ “Qual é a pior coisa que eu posso viver?” _ eu pensei enquanto ia para a sala.
Surpreendentemente, nossa sala havia voltado ao normal, com cada objeto de volta ao seu devido lugar. Por que eu ainda me espantava? Isso era tolice agora!
Eu me sentei a um canto abraçando minhas próprias pernas como na noite anterior. Aquela posição me acalmava.
Minha mãe e meu pai se sentaram à minha frente e Ambrosina ao lado deles.
_ Então_ eu disse querendo parecer desafiadora _ vocês podem começar a me dar as explicações agora.
Mamãe começou me explicando que a apresentação do Poeira havia sido uma ilusão criada por papai. As fotos haviam sido urdidas, pois, não havia sido uma apresentação real e todos os convidados se “esqueceriam” dessa parte da festa. Os convites desapareceriam, por magia, da casa de cada um dos convidados e essa manobra criada para atraí-los seria esquecida. Papai se encarregaria de manipular a memória dos convidados que não eram bruxos e eles se lembrariam da festa onde, segundo suas lembranças, ficaram até de madrugada, quando, na verdade, começaram a ir embora às onze da noite. 
Meu pai também me explicou que, muitas vezes, quando as pessoas normais assistem a algum fato onde a magia está envolvida, elas enxergam como se tudo tivesse ocorrido de maneira normal, o que explica porque ninguém percebeu o que aconteceu com a bola no dia do jogo na escola _ e explica também que fui eu a responsável por tudo aquilo.
Quando eu perguntei ao meu pai o “por que” de toda essa manobra, por que eu teria que ter uma festa badalada com praticamente toda a cidade convidada, por que não poderia ser uma festa somente com os bruxos, já que o objetivo único dessa festa era a minha iniciação no mundo bruxo, ele respondeu evasivamente:
_ Ouça filha, nós precisávamos nos cercar de cautela. Uma festa exclusivamente para o mundo bruxo levantaria muitas suspeitas e nós não queremos isso. Você foi criada nessa cidade como uma garota comum, então, seria normal que seu aniversário fosse comemorado por seus amigos e a festa estivesse cheia de pessoas comuns. Para garantir a presença de todos os seus colegas, criamos essa história da apresentação do Poeira na Estrada, que são os ídolos da juventude!
_ Isso seria por causa da “profecia”?
_ O que você sabe sobre isso? _ minha mãe parecia chocada ao perguntar.
_ Não muito. Sei apenas que houve uma profecia a meu respeito quando eu nasci e vocês vieram se esconder nessa cidade, vivendo pacatamente como pessoas normais e me criando como uma menina comum.
_ Sim. Eu e seu pai criamos você como uma garota comum que chamasse o mínimo de atenção sobre si. Na verdade, como bruxa, você nunca precisou de óculos, mas, nós manipulamos todas as suas consultas com a Dra. Maria Emília para que ela acreditasse que você precisava realmente de óculos e os receitasse para você.
“E eu usei aqueles óculos horríveis durante toda a minha vida sem necessidade?” _ pensei. Ah! Eu queria morrer! Eu ficava ainda mais feia com eles!
_ E o fato de eu não saber jogar vôlei, não saber dançar, tudo isso foi manipulado também? _ eu fervia de raiva! Nessa hora, um jarro de cristal se quebrou sobre a mesa de centro da sala (será que EU havia feito aquilo?).
_ Filhinha, veja _ foi papai quem falou agora, enquanto, com um gesto leve de sua mão, recompunha o jarro quebrado _ era preciso que você ficasse protegida! Se fosse destaque no vôlei, nas artes ou dançasse muito bem você chamaria mais atenção sobre si do que nós gostaríamos! Era PRECISO que você ficasse o mais oculta possível!
_ Como a Princesa Aurora de “A Bela Adormecida”? _ eu perguntei ironicamente _ Lembrem-se de que de nada adiantou ela ficar escondida até seu aniversário. A bruxa malvada a descobriu assim mesmo e ela ficou dormindo durante cem anos!
_ Sim, mas isso não significa que será assim para você também. – Ambrosina falou muito séria.
_ Que profecia é essa? _ eu não queria, mas, minha voz demonstrava toda a minha raiva. Afinal, eu havia passado a vida me sentindo um patinho feio e desajeitado sem necessidade!
Uma ventania começou dentro da sala e foi logo controlada por um único gesto da mão de Ambrosina.
_ Não foi sem necessidade! _ Ambrosina leu meus pensamentos mais uma vez _ Acredite, não faríamos você passar por nenhuma situação que lhe causasse sofrimento ou constrangimento se não fosse absolutamente necessário para a sua segurança!
_ Vocês não vão me dizer que profecia é essa?
A ventania ameaçou chegar novamente e, de novo, foi controlada por Ambrosina.
_ Existe uma bruxa muito antiga e muito sábia chamada Avgar. _ disse Ambrosina _ Ela vive reclusa há mais ou menos cinquenta anos. No dia do seu nascimento Avgar nos surpreendeu a todos ao sair da sua reclusão especialmente para fazer uma profecia a seu respeito. Segundo ela, naquele instante havia nascido a mais poderosa das bruxas, que seria a mais sábia de todos os tempos.
“Eu, a mais sábia das bruxas?” Pensei. “Tem graça!”
Eu continuei ouvindo calada, esperando o fim daquela história. E, sinceramente, eu estava tentando não provocar mais nenhum acidente.
_ Depois de fazer a profecia a seu respeito _ Ambrosina continuou _ Avgar jamais foi vista novamente. Até hoje continua reclusa, afastada da comunidade bruxa, vivendo nas montanhas como eremita.
_ Mas o que, exatamente, dizia essa profecia?
_ Um dia você saberá. _ era ainda Ambrosina quem falava _ O que você precisa saber agora é que alguém ambiciona ocupar o meu lugar de Mestra dos Bruxos há muito tempo. Alguém que já atentou contra a minha própria vida.
Ambrosina se calou por um tempo que, para mim, pareceu uma eternidade e, por fim, continuou:
_ Esse bruxo é também muito poderoso, de uma das mais puras estirpes bruxas, mas, ele trilhou um caminho diferente do nosso, escolhendo o Poder acima de qualquer coisa e é capaz de tudo para adquirir mais Poder... Inclusive matar...
Mamãe estremeceu ao ouvir essa última frase e disse:
_ O nome dele é Hypollitus, um bruxo talentoso, cheio de inveja e ciúme. Ele quer se tornar o Mestre dos mestres. Para isso ele fará qualquer coisa.
_ Até me matar? _ eu perguntei com um arrepio de horror.
_ Não pense nisso, filha. _ Meu pai queria parecer mais controlado do que realmente estava. Afinal, eles não se esconderiam comigo numa cidadezinha minúscula e me obrigariam a viver na obscuridade se algo muito sério não estivesse acontecendo e esse “algo muito sério” teria que ser essa profecia.
Esse era apenas mais um motivo para eu renunciar aos meus poderes de bruxa.
_ O mundo bruxo cercou a sua vida de todas as magias possíveis para que você permanecesse no anonimato, inclusive eu própria, que retive o seu Poder até hoje, quando devolvi a você toda a sua energia.  _ Ambrosina me deu uma pequena pista, nada conclusiva.
_ E por que eu preciso que Erick fique comigo?
_ Erick é um grande bruxo, de uma linhagem especialmente... Diferente. _ papai começou. _ Ele é apenas um pouco mais velho que você e nasceu com o Grande Poder também, além de outros poderes próprios dele que o restante do mundo bruxo não tem, nem mesmo você.
_ Há muitos anos ficou estabelecido (e ele sabe disso) que ele seria o seu guardião quando isso se fizesse necessário, porque embora você tenha um Poder excepcionalmente grande e forte, não foi criada como bruxa e ainda não sabe o que fazer com todo esse poder. _ mamãe sentenciou.
_ Não preciso de varinha? _ Eu me senti idiota ao perguntar isso. O vaso que se quebrou e a ventania mostravam que não era necessário ter uma varinha.
_ A varinha é apenas um objeto criado para fazer as pessoas do que não pertencem ao mundo bruxo entenderem o que é o Poder, querida. _ mamãe me respondeu _ O que você precisa é somente se concentrar e seu Poder fará acontecer. Nada mais. Porém, o seu Poder hoje é como uma caixa de fósforos colocada nas mãos de uma criança pequena. Ela abre a caixa e acha bonito ir riscando os fósforos, mas, não sabe como usar aquele fogo e acaba se queimando e machucando outras pessoas ou causando um incêndio, ainda que não queira. Porém, você não deve se preocupar porque logo aprenderá a se dominar.
_ Sua mãe, eu, Erick e Ambrosina estaremos ao seu lado para impedir que você coloque fogo na casa ou na escola _ papai brincou.
Eu não achei graça nenhuma na possibilidade de colocar fogo na casa sem querer. Isso reforçava a minha hipótese de que deveria me manter afastada de Bernardo e de Sissi se quisesse protegê-los. Agora eu sabia que eu deveria protegê-los não só das minhas trapalhadas, como também desse bruxo, Hypollitus, que não hesitaria em fazer picadinho dos meus amigos.
_ Há mais alguma coisa que você queira saber, filha? _ mamãe demonstrava realmente preocupação ao me olhar.
Havia tanta coisa para perguntar... Muita coisa era falta de percepção da minha parte: Nossa casa estava sempre bem arrumada e a comida deliciosa era servida nos horários certos, embora eu raramente visse minha mãe limpando ou cozinhando e não tivéssemos empregada (certamente não seria muito conveniente manter uma empregada numa casa de cheia de bruxos).
Agora eu podia perceber que, na verdade, minha mãe nunca fez nenhum trabalho doméstico e o que eu a via fazer era somente para me despistar. Era também muito estranho o fato de minha mãe ser a esposa de um médico e não ter sequer uma faxineira, mas, eu nunca havia percebido isso. Apesar de tudo, não quis perguntar mais nada.
Outra coisa que deveria ter-me chamado a atenção é sobre o nosso alto padrão de vida. É lógico que meu pai devia ter um ótimo salário, afinal ele era médico, mas, nós tínhamos um padrão elevado demais para uma família que se mantinha apenas com a renda salarial de um médico do interior.
Mesmo com todas as dúvidas, eu não quis entrar em detalhes, então, apenas balancei a cabeça:
_ Não. _ eu estava ainda meio atordoada com tudo aquilo. Meu Deus! Minha vida havia virado de ponta-cabeça!
_ Ah! Eu tenho, sim, uma dúvida! _ eu disse meio insegura.
_ Sim? _ Ambrosina me olhou com interesse.
_ E sobre... Deus? _ mais uma vez eu me sentia ridícula nas minhas perguntas.
Foi papai quem falou:
_ O que exatamente você quer saber sobre Deus?
_ Onde fica Deus nesse meio todo, onde existem bruxos, vampiros, sereias, lobisomens... _ eu continuava me sentindo ridícula.
_ Deus continua sendo o que sempre foi: O princípio e o fim de tudo, o Criador que deve ser adorado e respeitado por todas as criaturas.
_ Mas... E o mal?
_ Deus criou o mal? _ papai emendou _ O mal vai continuar no coração das criaturas. Deus continuará a proteger quem se mantiver no caminho do bem, quem se preocupar com o seu semelhante, pois, ainda que sejamos criaturas diferentes, fomos criados pelo mesmo Criador e Deus é Amor! Respondi sua pergunta?
_ Sim, pai, obrigada, embora eu saiba que vou ter muito mais perguntas.
Ambrosina me surpreendeu com mais uma revelação sobre a vida dos bruxos quando disse:
_ Apenas para que você se situe Carol, saiba que eu já sou a Grande Mestra há trezentos e trinta anos!
_ O quê? _ Ambrosina parecia ter mais ou menos setenta e cinco anos, não mais. _ E Erick, quantos anos tem?
Apesar de a situação ser um tanto delicada, todo mundo riu do meu espanto.
_ Erick tem dezenove anos, meu amor. _ Minha mãe falou gentilmente. _ Do nosso círculo de relacionamento, os mais velhos são Ambrosina, que tem trezentos e quarenta e seis anos e a família de Methe, outro grande amigo que, infelizmente, não veio à sua festa. As idades dos três membros da família dele somam mais de seiscentos anos.
_ O tempo conta um pouco diferente na vida dos bruxos._ minha mãe acrescentou.
_ Um pouco diferente? _ eu perguntei ironicamente.
_ Até os cinquenta anos o tempo é normal para nós. _ meu pai continuou como se não percebesse a minha ironia _ Eu tenho quarenta e dois anos e sua mãe tem trinta e seis, do mesmo jeito que você acabou de completar dezesseis. Mas, para o nosso corpo, a partir dos cinquenta anos, cada dez anos contam como se fosse um ano. Dessa forma, é como se Ambrosina tivesse setenta e nove anos, que são cinquenta, mais duzentos e noventa e seis que, para o seu corpo, são pouco mais de vinte e nove anos, entendeu?
_ Quer dizer, então, que você só completará cinquenta e um anos quando, na verdade, tiver sessenta?
_ Meu corpo entenderá que sim e eu terei somaticamente a aparência de cinquenta e um e não de sessenta anos, da mesma forma, quando eu completar setenta anos, meu corpo terá a aparência de cinquenta e dois.
_ Isso é, no mínimo, curioso. _ eu refleti, tentando não pensar muito sobre esse estranho mundo que eu estava descobrindo.
_ Se tiver qualquer outra pergunta, não hesite. Procure qualquer um de nós. _ Ambrosina falou.
_ Foi bom a senhora ter falado nisso. Como é que Erick vai ser meu guardião? _ por mais que eu tentasse controlar a minha raiva, não pude evitar que um quadro saísse voando da parede. Papai foi rápido dessa vez, recolocando o quadro de volta ao seu lugar. Ele tentou, mas não conseguir esconder um meio sorriso. Ele estava se divertindo com as minhas trapalhadas!
_ Robert e Charlotte compraram uma casa aqui. Robert será apresentado por nós aos nossos amigos como um parente distante que escolheu vir morar aqui para que sua família vivesse em paz, mas que continua, ele próprio, trabalhando em uma multinacional inglesa em Belo Horizonte, vindo aos finais de semana. Erick se matriculará amanhã na sua classe e ficará junto de você todo o tempo. Vocês terão, para todos os efeitos, pouca diferença de idade.
“Amanhã... Na MINHA classe?” _ pensei. Caraca! Isso seria pior do que eu imaginava! Eu achava que não iria conseguir conviver com Erick tão perto de mim, uma vez que ele me deixava tão desconcertada. E havia ainda aquele sonho... E a lembrança daquele beijo...
_ Peraí gente _ eu comecei, olhando para cada um deles _ eu agradeço muito essa história de poder, mas, eu não posso aceitar isso! Tipo, eu NÃO QUERO ser bruxa, vocês estão me entendendo? Vocês podem pegar o meu poder de volta, é sério, eu não vou sentir a menor falta dele já que vivi até hoje sem ele!
Mamãe pegou a minha mão, balançando a cabeça e sorrindo. _ Carol, minha querida, nós compreendemos que tudo pode estar sendo muito difícil para você nesse momento, mas, não é assim tão simples! Você não pode simplesmente decidir “não quero ser bruxa” e imaginar que tudo voltará a ser como antes.
_ Não?
_ Não. _ ela disse simplesmente _ Ser bruxo não é uma coisa que se escolhe, a pessoa nasce assim e pronto. O Poder que lhe foi retirado por Ambrosina pertence a você, somente a você e ninguém pode fazer uso dele. Ainda que Ambrosina não o tivesse devolvido, o Poder é tão forte que voltaria para você, mesmo que ninguém fizesse nada para isso. Se o Poder voltasse para você sem ter sido devolvido por Ambrosina, ele voltaria de uma maneira descontrolada e só Deus para dizer o que aconteceria.
_ Oh! _ foi tudo o que eu consegui dizer. Quer dizer então que eu estava acorrentada para sempre a esse destino? Não podia escolher ser diferente? Eu pedi licença e subi lentamente as escadas rumo ao meu quarto, naquelas últimas horas era somente lá que eu me sentia confortável. Bernardo jamais iria entender a presença constante de Erick ao meu lado, ainda que ele fosse apenas “meu parente”.
Aquele domingo parecia não ter fim. Inexplicavelmente, eu estava morrendo de saudades de Bernardo. Ele havia ficado de telefonar mais tarde. Isso estava fora de cogitação agora. Eu teria que mantê-lo afastado. Meu Deus! Ele jamais iria entender meu comportamento, passaria a me odiar com a presença constante de Erick ao meu lado. Ele iria pensar que eu não o queria mais, que o estava deixando por causa de Erick! Na verdade, eu não o queria mesmo, mas, não queria que fosse assim, eu esperava ter mais tempo para conseguir ajeitar tudo sem traumas.
Ah! Por que a vida tinha que ser tão injusta assim? As lágrimas corriam livremente sobre meu rosto e eu não me preocupava em limpá-las. Tudo o que estava acontecendo parecia surreal! Como, de uma hora para outra, alguém pode descobrir que toda sua vida foi uma mentira? E que tudo aquilo que nos foi contado durante toda a nossa vida como se fossem simples histórias da carochinha era verdade?
Como se não bastasse eu descobrir que toda a minha vida foi baseada em mentiras, que eu nunca fui a pessoa que eu achava que era, que nem óculos eu precisava usar, eu ainda descobria que bruxos existiam de verdade e, pior, que, eu era um deles!
Ainda havia Hypollitus! Quem seria esse sujeito? Qual seria a sua relação com a profecia sobre mim? Enquanto queimava mais neurônios tentando decifrar o indecifrável, acabei adormecendo e tive um sono tumultuado.

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