domingo, 21 de julho de 2013

QUINTO capítulo de OUTONO!!!!

Chegamos aos 200 seguidores!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! E para comemorar, aqui está o quinto capítulo de Outono na íntegra! Aproveitem!!!

CAPÍTULO 5
Erick

Quando acordei o sol já estava alto. Meu estômago roncava de fome, afinal, eu não havia comido nada desde o dia anterior. Eu pensei em descer e comer alguma coisa, mas não estava com muita vontade de enfrentar os olhares de meus pais.
Eu me sentei na cama e vi minha roupa espalhada no chão do jeito que havia deixado cair na véspera. Meus sapatos estavam jogados a um canto. Meu pijama estava em cima da cama desarrumada e meu quarto todo era um caos total. Minha mãe disse que bastava eu me concentrar e as coisas aconteceriam...
Era hora de testar meus poderes, então! Eu me concentrei fortemente para ver meu quarto arrumado, com todas as roupas guardadas em seus devidos lugares e minha cama devidamente arrumada. Fechei os olhos e continuei a me concentrar. Eu senti que alguma coisa saiu de mim como se fosse uma força enorme. Houve um barulho ensurdecedor. Consegui! Foi mais fácil do que eu pensava!
_ Ha, ha, ha! Você até que foi pelo caminho certo, mas chegou ao lugar errado.
A risada trocista de Erick me fez abrir os olhos. Ele estava parado ao lado da porta com os braços cruzados sobre o peito e um pé encostado na parede. Minha cama estava de pernas para cima e quebrada do lado direito. O vestido não estava mais no chão, havia ido parar na janela. Meus sapatos estavam jogados no closet que estava com as portas e gavetas abertas e, para minha vergonha, minhas roupas íntimas haviam ido parar no lustre do quarto, formando um bolo.
_ O que você está fazendo aqui? _ Perguntei roxa de raiva.
Ele continuava a rir ruidosamente, o que aumentou muito mais a minha raiva. Eu me concentrei fortemente desejando que ele batesse a cabeça no chão, mas ele somente riu mais ainda, quando eu não consegui nada.
_ Você ainda tem muito que aprender. Quer usar magia contra mim? _ ele disse quase sufocando de tanto rir. Esse Erick não se parecia com aqueeele carinha que me fazia ficar com coração descompassado.
_ Eu SEI que tenho muito a aprender com você, seu bruxo idiota, mas, ao que me consta, você não tem o direito de invadir meu quarto dessa maneira.
Erick continuou a me olhar com aquele jeito desconcertante de sempre e suspirou:
_ Não fui eu quem determinou que eu fosse o seu guardião.
_ Mas, peraí, isso não te dá o direito de entrar no meu quarto!_ rosnei.
_ Em que lugar você quer que eu lhe ensine a controlar seu poder? Na rua, para todos perceberem?
_ Você poderia ao menos ser educado e avisar que vai entrar, não precisa aparecer de repente rindo de mim quando eu estou de olhos fechados.
_ Então, se eu avisar, eu posso começar a frequentar o seu quarto? _ ele estava perturbadoramente atraente. Ah! Deus! Por que ele tinha que me olhar daquele jeito?
_ Eu NÃO disse ISSO! _ eu estava sentindo um frio no estômago.
_ Acabou de dizer! _ ele continuava a zombar. Se, pelo menos, ele não fosse tão perfeito!
_ Eu DISSE que se você tem que me ensinar no meu quarto, longe dos olhos do público, você PODERIA ter a delicadeza de avisar antes!
_ Mas foi exatamente isso que eu disse que você falou! Onde está o erro?
Eu rolei os olhos.
_ Quer saber, Erick, me deixa em paz!
_ Só se você me prometer que não vai colocar fogo na casa da próxima vez que tentar arrumar o seu quarto.
Eu joguei uma almofada nele com raiva. Dessa vez ele não usou magia para se defender, apenas se esquivou da almofada jogando o corpo para frente.
_ Você vai à escola amanhã, né? _ Minha cara não estava muito boa ao dizer isso.
Ele colocou a cama de volta no lugar, consertando o lado quebrado apenas com um movimento de suas mãos e se deitou nas almofadas macias com as pernas cruzadas em cima do colchão e as mãos atrás da cabeça, parecendo perfeitamente à vontade no MEU quarto.
_ É, faz parte da sua proteção. _ sua voz era doce.
_ E você parece achar tudo isso muito divertido!
_ E você não? Pense um pouco: Você é uma bruxa e isso significa muito mais do que somente arrumar um quarto sem ter que suar de tanto trabalhar!
_ Mas é que você não imagina como isso é pesado para mim.
_ Sim, eu imagino. _ ele respondeu com seriedade (era a primeira vez que ele falava sério comigo, desde nos conhecemos e isso o fazia ficar ainda mais incrivelmente lindo) _ Sei que deve ser um peso você sair da sua adolescência e se vir de uma hora para outra responsável por toda a comunidade bruxa e sei também que você está pensando em largar de lado sua melhor amiga e também o seu namorado, apenas para protegê-los.
_ Peraí, o que você disse? Por que eu seria responsável por toda a comunidade bruxa? _ será que isso tinha algo a ver com a profecia?
Erick engasgou.
_Na verdade, todos nós somos responsáveis uns pelos outros e você, ao se descobrir uma de nós, também se torna responsável por toda a comunidade. _ alguma coisa na voz dele não me convenceu.
_ Hypollitus poderá me fazer algum mal?
_ Não se eu estiver vivo para impedir. _ seu olhar demonstrava suavidade e o modo como ele falou me fez arrepiar.
Meu coração disparou por um segundo. Eu queria que ele não me olhasse daquele jeito... Eu até que queria chorar, mas, não conseguia. Algo dentro de mim me incentivava a ser mais forte. Erick deve ter percebido a contradição em meu rosto porque falou:
_ Ei, eu sou seu amigo, não estou contra você.
_ Se você é mesmo meu amigo, você não poderia fazer com que o Bernardo me esquecesse?
_ Não, isso eu não posso fazer. _ ele foi inflexível.
_ Por quê? Apenas tudo voltaria a ser como antes! Até quinze dias atrás ele nem sabia da minha existência!
_ Mas agora ele sabe!
_ E por que você não pode fazer com que ele me esqueça? Papai não manipulou a memória de todos os convidados não bruxos na festa de ontem?
_ Uma coisa é manipular a memória de alguém e outra coisa é se chegar até o sentimento.  Não se consegue mudar o sentimento de uma pessoa durante muito tempo! Mesmo os feitiços de amor não duram para sempre.
E ele continuou:
_ Existem alguns encantamentos para o amor, mas eles não chegam ao âmago dos sentimentos de uma pessoa, você entende?
_ Não! _ respondi.
_ Suponhamos que você amasse Bernardo, mas ele amasse Sissi e você, inescrupulosamente, fizesse um encantamento de amor para ele; isso só funcionaria por um determinado tempo em que ele ficaria “enfeitiçado” por você, mas não seria real e acabaria logo, porque somente o amor sincero é duradouro.
Eu nunca imaginei que Erick entendesse tanto de sentimentos! O pouco que conheci dele foi de uma pessoa que tinha o olhar cheio de ironia e que ficava caçoando de mim o tempo todo. Agora eu conhecia um novo Erick, sensível, capaz de entender os meus sentimentos e incapaz de realizar qualquer magia ilícita.
Erick continuava sério:
 _ Seu pai fez uma manipulação ontem, mas, toda a festa de ontem, incluindo a manipulação de memória dos convidados tinha um objetivo que era a SUA PROTEÇÃO! Seu pai jamais faria uma coisa tão séria sem um motivo justo.  A mesma coisa vale para sua mãe na época em que ela fazia sua oftalmologista acreditar que você precisava de óculos!
Ele parecia realmente preocupado com o que eu pudesse vir a fazer com as pessoas pela minha magia.
_ Uma coisa é a espécie de névoa que encobre os olhos das pessoas para que elas não percebam que está acontecendo magia ao seu redor. Isso é para protegê-las. Outra coisa é violar a intimidade de alguém mexendo em seus pensamentos. Seus pais não prejudicaram ninguém ao manipular suas memórias.
_ Entendi. Mas... Será que você não poderia fazer com que o Bernardo se esqueça de telefonar para mim hoje? _ eu olhei para ele implorando _ Por favor!
Ele olhou pra baixo e depois olhou pra mim por entre seus longos cílios escuros, me encarando com seriedade:
_ Você sabe que não pode fugir dessa situação para sempre, não sabe?
_ Sim, mas, tá tudo muito recente! Me ajuda, Erick, só hoje! _ eu o olhei de novo, com olhos súplices _ Por favor!
Seus olhos estavam grudados em mim.
_ Está bem! Só hoje e não me peça mais para fazer isso.
_ Ok.
Ele se concentrou por alguns segundos, fechou os olhos e os abriu em seguida:
_ Ele não vai telefonar para você hoje. Amanhã ele pensará que telefonou e que tudo está bem entre vocês.
_ Caraca! _ eu estava impressionada _ Que Poder é esse!
_ O mesmo que você tem e o seu é até maior que o meu. Mas, não use esse Poder para prejudicar ninguém!
_ É claro que não vou usar!
_ Nem a você mesma!
_ Como assim?
Erick riu, sua risada era cristalina:
_ Você pode sentir vontade de fazer as provas na escola pela magia.
_ E não posso?
_ Bem, até que pode, mas, o que você ganharia com isso?
_ Seu chato! Agora que a coisa estava começando a ficar divertida! _ e, pela primeira vez desde a noite anterior, eu dei uma boa risada.
_ O que você acha de começar o treinamento agora?
_ A-agora?
_ Por que o espanto? Achei que quando você tentou arrumar seu quarto estava treinando!
_ Sim, estava, mas era só de brincadeira. Para ver se funcionava.
Erick me fitou com gravidade, a expressão impenetrável:
_ Isso NÃO é uma brincadeira! Você não está brincando de ser bruxa, você É uma bruxa, entendeu?
O jeito como ele falou me surpreendeu. Eu percebi que, mesmo chorando e me preocupando com o que iria acontecer dali em diante, eu ainda estava tratando tudo como se fosse apenas um faz de conta. Era realmente sério! Eu tinha que colocar na cabeça que eu era, de fato, uma bruxa com um enorme Poder que, se não estivesse sob controle, poderia machucar muita gente!
_ Como eu devo fazer então, Erick? _ eu falei subitamente séria desta vez. _ Mamãe me disse que era apenas para eu me concentrar, mas, parece que não deu muito certo... _ eu sorri para ele timidamente, enquanto olhava minhas roupas espalhadas pelo quarto.
_ Não deu certo porque você não usou a técnica correta.  Quando você se concentrar, você tem que imaginar como já estando pronto e do jeito que você quer que seja. Se não se concentrar, o poder sairá de você de maneira disforme e se arranjará de qualquer jeito, como aconteceu com seu quarto.
Ele olhou à sua volta, pelo quarto desarrumado.
_ A força saiu de você, mas não soube como arranjar as coisas, porque você não especificou exatamente o que queria. Tente novamente, mas, desta vez, especifique aonde quer que as coisas se ajeitem.
Eu fechei os olhos e me concentrei. Imaginei meus sapatos na sapateira, minhas roupas íntimas de volta à gaveta (que vergonha), o closet com as portas e gavetas fechadas, meu vestido pendurado junto com os outros vestidos de festa, meu pijama (Augh! Erick havia visto o meu pijama e, pior, minhas roupas íntimas!) debaixo do travesseiro, os grampos dentro da caixinha e as joias dentro do porta-joias. Com um lampejo de travessura, imaginei Erick sentado no chão, em posição de lótus. Senti a força saindo de mim e abri os olhos a tempo de ver Erick sendo arrastado violentamente para o chão e ficando sentado na posição de lótus.
_ Por essa você não esperava, hein?
Ele meio que quis ficar bravo comigo, mas, depois, começou a rir.
_ Você se saiu muito bem, conseguiu me pegar de surpresa. Isso é muito importante em lutas.
_ V-Você disse lutas?
_Desde que Hypollitus atentou contra a vida de Ambrosina e seus pais se esconderam para que você fosse criada sem problemas, temos nos preparado para uma possível luta com ele e seus seguidores.
Um arrepio percorreu o meu corpo. Será que a Profecia também falava sobre isso?
Eu me lembrei de uma pergunta que queria fazer:
_ Bruxos podem ler pensamentos?
_ Por que a pergunta?
_ Porque às vezes parece que você sabe o que eu estou pensando e Ambrosina também.
_ Você é muito transparente e deixa seu rosto mostrar tudo o que está em sua mente. Não somos somente eu e Ambrosina que conseguimos ler seus pensamentos...
Eu me lembrei de Bernardo, quando ele percebeu o quanto a minha situação com Sissi estava me atormentando. Sim, era verdade, eu não me dava ao menor trabalho de esconder meus sentimentos.
_ Você se lembra do livro de Harry Potter, quando eles falavam em “oclumência”? _ Erick perguntou.
_ Sim, mas... O que tem Harry Potter a ver com isso?
_ Nada. Ou tudo. _ brincou ele_ O que era oclumência? Era a capacidade de uma pessoa fechar a sua mente para que outra pessoa hábil não pudesse ver descobrir seu pensamento. Você ainda não é habilidosa em “oclumência”.
_ Quer dizer que isso existe? Tipo, o contrário da oclumência é a “legilimência”, né?
_ Parabéns! Nota dez em Harry Potter! _ zombou Erick _ Não importa o nome, o significado é o mesmo: A habilidade de se esconder o que se pensa e também de se perceber no rosto de alguém o que ele está pensando.
_ Como você mistura a ficção com a realidade! Meu Deus!
_ Quem está misturando as coisas? Eu apenas usei o exemplo de Harry Potter porque todo mundo conhece o livro.
_ Está bem, então, continue a me explicar. _ eu disse com impaciência.
Ele olhou para mim, os olhos intensamente negros cheios de uma emoção que eu não consegui compreender.
_ Você precisa aprender a esconder o que está pensando. Como bruxos, nós não podemos ser descobertos no mundo das pessoas comuns e Hypollitus não pode descobrir onde você está, nem que você está viva.
_ Por que Hypollitus não pode saber que eu estou viva? _ eu estava começando a ficar apavorada.
Erick mais uma vez se mostrou arrependido por ter falado o que não devia e simplesmente ficou calado, apertando as mãos uma na outra como se não soubesse o que fazer.
_ Você não acha que eu mereço saber? _ minha voz estava suave, mas, por dentro, eu estava fervendo.
_ Às vezes, saber dos fatos só nos deixa mais vulneráveis _ ele respondeu enigmaticamente _ por enquanto, quanto menos você souber, melhor. Isso fará com que fique mais protegida.
Sabendo que eu não conseguiria arrancar mais nada de Erick, mudei de assunto propositalmente.
_ E, tipo, o que eu preciso fazer para aprender a fechar a minha mente?
_ “Os olhos são a janela da alma” já dizia o filósofo não sei quem... _ ele brincou novamente _ Quando quiser esconder algo, desvie o olhar, não deixe que ninguém olhe no fundo dos seus olhos, senão muitos mistérios podem ser revelados.
_ Mas e quando a pessoa em questão não estiver perto de mim? A técnica de desviar os olhos não é usada apenas pelos bruxos, qualquer pessoa que esteja mentindo desvia o olhar ou pisca os olhos.
_ Sim, mas isso é somente o começo. Há muito mais a se aprender. Depois, você deve mascarar seus pensamentos, envolvê-los numa espécie de névoa, entende?
_ Não. _ respondi simplesmente.
_ Você pode misturar outros pensamentos que não têm nada a ver com o que se quer esconder.
_ Descobrir pensamentos pode acontecer com todos ou somente com os bruxos?
_Existem pessoas que não são bruxas e conseguem descobrir o que os outros estão pensando. Outras criaturas, bruxas ou não, podem não ter essa habilidade tão desenvolvida.
_ Eu não tenho nem uma nem outra, não consigo ocultar meus pensamentos e nem descobrir o que os outros estão pensando.
_ Não conseguia! A partir de agora vai conseguir!_ ele parecia certo disso.
_ Então, vamos treinar. Em que eu estou pensando agora?
_ Pela sua cara, você está pensando em como conseguir fechar a sua mente e acha que será muito difícil conseguir.
_ Ah! Seu bruxo nojento! Como descobriu? _ eu joguei outra almofada nele.
_ As emoções negativas são as que nos deixam mais vulneráveis: medo, raiva, tristeza...
_ Então você descobriu o que eu estava pensando por causa do meu medo de não conseguir?
_ Sim! Mas você está se saindo bem! É mais fácil esconder a alegria e a coragem do que a tristeza e o medo, porque esses nos fragilizam.
Eu senti o meu estômago roncar e me lembrei de que não havia comido nada ainda.
_ Você está com fome?
_ Eu estava me perguntando quando é que você iria me oferecer. _ Erick me olhou de um jeito escandalosamente lindo.
_ Hã... _ eu estava particularmente desajeitada naquela hora _ só me diga mais uma coisa... Esconder pensamentos faz parte do treinamento de todos os bruxos ou é só do meu especificamente?
_ Normalmente nós temos muito tempo para aprender as coisas, toda a infância praticamente, não é como você, que tem que fazer um curso superintensivo de magia. _ Ele piscou, deixando-me desconcertada de novo. Que mania esquisita de ficar envergonhada perto dele!  Isso iria acabar comigo, porque, pelo visto, nós íamos passar muito tempo juntos.
Ele riu alto! Descobriu meus pensamentos de novo, esse bruxo idiota. Ele parecia se divertir em me deixar desse jeito. Será que não dava para ele fingir que não sabia o que eu estava pensando, ainda que fosse por delicadeza?
Descemos até a cozinha onde havia sanduíches e suco sobre a mesa. Eu fiquei sem saber se era magia de Erick ou de mamãe, mas isso não importava, os sanduíches estavam divinos.
O jeito encantador de Erick durante toda tarde daquele domingo me fez rir muito e eu até me esqueci das minhas preocupações com o futuro. Eu fiz tantos progressos em magia que consegui limpar a cozinha sem deixar quebrar nada, somente me concentrando.

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