quarta-feira, 3 de julho de 2013

Poesia na alma: Livro nacional? Não quero! "DO BLOG http://lilianpoesiablogs.blogspot.com.br"

Poesia na alma: Livro nacional? Não quero!:

Jornal do Brasil
Raphael Montes

Semana passada, fui abordado em uma livraria do centro do Rio por uma moça que queria ajuda na escolha de um livro de suspense ou de aventura. Entre os lançamentos, recomendei A noite maldita (ed. Novo Século),do André Vianco, e Fios de prata (selo Fantasy), do Raphael Draccon. A moça estava bastante entusiasmada com as indicações até ler a biografia dos autores. Sua expressão mudou subitamente e ela largou os livros com um vigoroso “ai, autor brasileiro não, né?”. Perguntei qual era o problema e ela se defendeu, dizendo que o livro não era para ela e que “dar de presente livro nacional pega mal, né?”. Sem muita paciência, me afastei, mas fiquei observando quando ela pescou um Harlan Coben na prateleira e enfiou-se na fila para pagar.

Dois dias depois, participei de uma mesa de debates com autores de literatura nacional no monumento Estácio de Sá. O evento estava cheio e o entusiasmo dos leitores em ter contato direto com autores era evidente. Diante de episódios tão díspares, foi inevitável a pergunta: por que brasileiro não lê brasileiros? Especifico: por que brasileiro não lê brasileiros contemporâneos?

Quero falar daquelas obras de gênero (policial, fantasia,chicklit, terror) que disputam com os bestsellers e, vez ou outra, conseguem seu espaço no mercado editorial. André Vianco, por exemplo, chegou na marca de um milhão de exemplares com suas histórias de vampiro – tema bastante explorado em obras estrangeiras também.Há romances nacionais para os mais variados gostos, sempre trazendo características e paisagens tipicamente brasileiras, o que torna a identificação com a história muito mais eficaz. Por que, então, os livros estrangeiros ainda têm preferência?

Escritores

A internet deu voz a diversos potenciais contadores de histórias. A facilidade no contato com os leitores e editoras; a praticidade e a eficácia da divulgação, além de outros recursos que o mundo virtual disponibiliza são os motivos que tornaram mais fácil o surgimento de novos autores – em sua maioria jovens – no mercado editorial.

Ao passo que o número de escritores cresceu, a publicação também sofreu mudanças. Sua forma tradicional deixou de ser o único meio pelo qual um livro é editado e posto à venda. Abriu-se um leque de alternativas que vão desde a publicação independente até a premiação em concursos literários.Isso é ótimo, pois aumentou a variedade de temas e deu maior destaque à produção nacional. Ao fazer sucesso, um escritor ajuda não só a si, como a todos que produzem aquele tipo de literatura no país.

Por outro lado, com o crescimento da quantidade de textos publicados, a qualidade diminuiu. Buscando realizar o sonho de ter seu livro à venda, muitos escritores não tomam os cuidados devidos na hora de lançar sua obra no mercado: falta paciência, profissionalismo e comprometimento.Daí, alguns romances chegam às prateleiras mal revisados e mal editados, o que degrine a imagem da literatura nacional de gênero – que ainda se encontra em delicada construção.

Editoras

Muitas vezes apontada como a vilã da história, a editora precisa ser defendida antes de julgada. A maioria das editoras recebe dezenas de originais por semana, o que torna impossível a cuidadosa avaliação de todos eles. Assim, destacam-se na pilha aqueles que prendem logo nas primeiras páginas e que trazem uma proposta bem feita; sem erros graves de Língua Portuguesa, por exemplo.

Uma vez editado, o romance brasileiro entra em uma verdadeira selva, disputando atenção e espaço com bestsellers estrangeiros que já chegam ao país fazendo sucesso. Como todo negócio, as editoras precisam sobreviver financeiramente. Por isso, costumam investir pesado na produção, na distribuição e na divulgação dessas obras internacionais. São títulos que já deram um retorno positivo em outros países e, provavelmente, trarão bons números por aqui também. O sucesso é apenas consequência. Vencer esta barreira de marketing para chegar ao leitor brasileiro é um grande desafio ao escritor nacional.

Blogueiros

Os blogs literários são meio essencial para a divulgação de um livro. Essas plataformas apresentam lançamentos e resenhas que geram uma repercussão inimaginável junto aos leitores. Quando uma rede de blogs elogia um romance, a propaganda é rapidamente difundida na rede. Além disso, a internet facilita o contato direto entre escritores – principalmente nacionais de gênero – e blogueiros. Há vantagens para os dois lados: para o escritor, que acompanha de perto o retorno sobre sua obra; para o blogueiro, que pode trocar ideias e fazer entrevistas.

Infelizmente, alguns blogs acabam se comercializando e esquecem que seu principal papel é difundir o gosto pela leitura. Muitos se deixam levar pelo sistema de parcerias (ganham livros de autores e/ou editoras para sortear) e acabam baixando a qualidade ou simplesmente deixando de comprar obras – uma vez que recebem quase todas de graça. A mim, isso parece uma inversão de papeis.

Recentemente, um episódio me deixou bastante alegre. Um leitor blogueiro ficou tão empolgado após finalizar meu romance Suicidas que comprou outro exemplar do livro para sortear e fez uma resenha em sua página “Ler por leh”. Como era uma ótima iniciativa, fiz questão de divulgar a página dele nas minhas plataformas, de modo que a repercussão do sorteio foi enorme e os dois lados saíram ganhando. Isso só prova que a relação de parceria entre blogueiros e autores pode (e deve) ir além do envio gratuito de um exemplar.

Leitores

Leitores também são uma importante plataforma de divulgação. Como os títulos brasileiros não costumam receber maior atenção da imprensa, o “boca-a-boca” acaba sendo responsável pela quebra do preconceito que muitos leitores têm com obras nacionais. Além disso, o leitor é a força maior que leva um escritor a se dedicar ao seu romance. Sem leitores não há escritores. É essencial que todos juntos – leitores, blogueiros, escritores e editoras – dediquem-se a criar uma literatura brasileira cada vez mais especializada e bem difundida entre nós.

Texto escrito em conjunto com Victor Schlude, autor infanto-juvenil.


*Raphael Montes é advogado e escritor.Suicidas, seu romance de estreia, foi finalista do Prêmio Benvirá de Literatura 2010 e do Prêmio Machado de Assis 2012 da Biblioteca Nacional, sendo o único livro brasileiro na Série Negra, coleção de romances policiais da editora Saraiva.O autor pesquisa o gênero policial, escreve estudos sobre o tema, realiza trabalhos como copidesque de textos literários e ministra palestras sobre processo criativo em faculdades e cursos. Dias perfeitos, seu próximo romance policial, será publicado em 2014. Para saber mais, confira o website: www.raphaelmontes.com.br...

5 comentários:

Anônimo disse...

Eu mesma fico ofendida quando vejo uma cena como essa! Ainda não li André Vianco, mas já li Raphael Draccon e vários outros autores...muitos que nem são tão conhecidos como esses e fico impressionada com o potencial que nossos autores tem. Também me pergunto: por que brasileiro não lê brasileiros contemporâneos?
É um preconceito que precisa ser quebrado. Sempre que alguém me dá oportunidade eu ofereço emprestado meus nacionais e incentivo a pessoa a ler. Aos poucos, vamos mudar isso =)

www.resenhasealgomais.com.br

Unknown disse...

Olá, como vai? Vou confessar que eu era igualzinha a esta mulher, e me arrependo muuuuuuitíssimo. Tenho visto muitos autores brasileiras ganhando mercado, e claro SENSACIONAIS na escrita... consegui quebrar este meu preconceito, e hoje incentivo outras pessoas a darem mais valor a escritores brasileiros. Abração, e parabéns pela temática do post, gostei muito!

http://olivrodehoje.blogspot.com.br/

Valéria Schmitt disse...

Verdade amigas, infelizmente, nós, brasileiros, temos a tendência de achar que "tudo o que é importado é melhor"... E assim, não valorizamos os talentos nacionais, que são muitos.

Raíssa Nantes disse...

É sempre assim, há mta descriminação.
Muito dificil um brasileiro valorizar as coisas boas do seu país. Não li Vianco ainda, mas tenho livros do Dracon na estante para ler, já li algumas coisas de amigos e estou com planos de publicar o meu primeiro livro ainda esse ano, independentemente. O trabalho está quase no fim, precisa de muita revisão e bem... temos de nos dedicar a isso quando vamos por conta própria.
Concordo com cada ponto e virgula do texto dele. Esse é o meio em que leitores, editoras e escritores vivem nesse país e precisamos quebrar esses paradigmas.
Beijos
Bom Final de Semana

Por Mais Uma. disse...

Confesso que, antes, até tinha um pouco de receio na compra de nacionais, talvez por terem menos divulgação. agora, graças a internet, isso pode mudar. Por isso que nosso blog também incentiva autores e leitores de nacionais, afinal nosso mercado precisa de perder esse preconceito! Existem obras ruins, claro, mas por que ler um best seller gringo que se quer é bem escrito ou pensado?


pormaisuma.com